O percurso criativo na escrita de Mário de Andrade e o ensino da escrita na escola / The creative route in Mário de Andrades writing and writing teaching at school

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

20/04/2012

RESUMO

Nesse estudo, ambicionamos refletir a respeito do ensino da escrita na escola. Partimos da constatação de que esta instituição tem trabalhado a escrita a partir do produto final, do texto pronto, desconsiderando seu processo de elaboração. Paralelamente, entendemos que o texto escrito esconde as marcas de sua produção, que não é linear, mas, sim, requer um longo trabalho. Para estudar o que está subjetivamente implicado no ato de escrever, partimos dos estudos da psicanálise, retomando os conceitos de sublimação, de Freud (1915), e de Sinthoma, de Lacan (1964). Apoiamo-nos, também, no conceito de trabalho da escrita, de Riolfi (2003). Para compreender como este processo se configura, examinamos o modo como um escritor profissional escreve. Especificamente, tomamos como objeto de análise os manuscritos do conto Primeiro de Maio, de Mário de Andrade. O objetivo, ao lidar com esse corpus, foi perseguir o percurso de escrita de um autor proficiente, a fim de perceber os modos por meio dos quais ele dá concretude ao seu processo criativo. Acreditamos que esta descrição pode servir de inspiração ao professor da escola básica que ambiciona ensinar a escrever. Para a composição e organização do corpus, seguimos as diretrizes da Crítica Genética e, para sua análise, da Análise do Discurso. A primeira estuda os processos de criação literária, a partir da comparação dos manuscritos de uma obra. A segunda, por sua vez, ao considerar os elementos que estão imbricados em qualquer texto (sujeito, língua e sentido) nos auxiliou na percepção de como as mudanças efetivadas por Mário de Andrade na materialidade linguística levavam a diferentes efeitos de sentido. A análise permitiu concluir que Mário de Andrade tende ao acréscimo, na versão definitiva do conto, se utilizando, principalmente, da rasura imaterial, ou seja, aquela que só pode ser visualizada por meio da comparação minuciosa entre versões. O cotejamento de versões mostrou que, ao copiar a versão anterior, o autor vai acrescentando muito ao texto original. Os principais acréscimos realizados pelo autor estão relacionados às funções adverbiais e adjetivais da escrita. Sem mudar a história de uma para outra versão, o autor adiciona elementos que, à primeira vista, pareceriam acessórios, mas que funcionam para aprofundar a caracterização do personagem, do espaço, assim como das contradições entre os discursos nacionalista e comunista presentes no conto. Acreditamos que estes acréscimos poderiam refletir um acirramento das contradições sociais após o decreto do Estado Novo (1937-1945), momento histórico importante, ocorrido entre as duas versões examinadas. Ao retomarmos as reflexões e as análises realizadas ao longo deste estudo, concluímos que um possível caminho para ensinar o processo da escrita, poderia ser a análise, junto com os alunos, das modificações linguísticas nos textos que causam determinados efeitos de sentido. Esse tipo de estudo facilitaria a instalação do trabalho de escrita, que, por sua vez, ao menos potencialmente, poderia levá-lo a desenvolver uma escrita singular.

ASSUNTO(S)

ensino escrita manuscript manuscrito mário de andrade mário de andrade psicanálise psychoanalysis teaching writing

Documentos Relacionados