O papel da linguagem em uso na sala de aula no processo de apropriação da leitura de crianças e jovens e adultos

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

25/03/2011

RESUMO

O presente trabalho visa ampliar a compreensão do processo de apropriação dos sentidos da leitura de crianças e jovens e adultos alfabetizandos a partir da investigação do papel da linguagem em uso nas salas de aula desses sujeitos. Apresentamos o resultado de uma pesquisa etnográfica que teve como foco duas turmas iniciais de alfabetização de duas escolas públicas diferentes localizadas em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. A coleta de dados foi realizada durante um ano por meio da observação participante, notas de campo, análise de artefatos do grupo, entrevistas, fotografias, gravações de vídeo e áudio. O enfoque teórico-metodológico adotado baseia-se na abordagem Histórico-Cultural, fundamentada na teoria sobre o desenvolvimento humano de Lev S. Vygotsky (VYGOTSKY, 1934/1993; 1979; 1989; GOMES, 2004; GOMES e MONTEIRO, 2005) e nos pressupostos da Etnografia Interacional (SBCDG, 1992; CASTANHEIRA, M. L; GREEN, J. L.; DIXON, C., 2007): Sociolinguística Interacional, Análise Crítica do Discurso e Antropologia Cognitiva, a saber. Também foram consideradas as contribuições da teoria enunciativa da linguagem de Bakhtin e dos estudos recentes da área de alfabetização e letramento, com foco nas relações entre linguagem e leitura (BAKHTIN, 1992; 1979; STREET, 1984; 2002; 2009; HEATH, 1983; ROJO, 2004; SOARES, 1998; 2002; CAFIERO, 2005). A análise do processo de ensino aprendizagem da leitura construído nas interações e ações dos alfabetizandos, possibilitou conhecer o que e como leem, para quem leem, quando e onde leem e quais os efeitos da linguagem em uso, ou seja, do contexto, das dimensões comunicativas e sociais instauradas em cada sala de aula no processo de desenvolvimento das capacidades leitoras desses sujeitos. Em relação à sala de aula da EJA foi possível perceber que a linguagem produzida e interpretada nos discursos e ações do grupo estudado funcionou como meio de comunicação, como modo de organizar as interações. Contudo, não possibilitou estudo e reflexão sobre o que se leu, sobre os objetivos da leitura, e sobre o processo de apropriação desse bem cultural. As capacidades específicas do domínio da leitura desenvolvidas nessa sala de aula se restringiram às habilidades e aos conhecimentos relativos à decifração. Ao contrário do que aconteceu na sala de aula da EJA, as capacidades relativas à decodificação foram trabalhadas em consonância com as capacidades de compreensão de textos e com os usos e funções da língua escrita. A linguagem em uso pelas crianças e pela professora, ou seja, a linguagem produzida e interpretada nos discursos e ações desse grupo estudado possibilitou o estudo e reflexão sobre o que se leu, sobre os objetivos da leitura, e sobre o processo de apropriação desse bem cultural. Mais do que isso, instaurou-se na sala de aula uma relação dialógica de respeito e valorização da cooperação mútua. Dessa forma, as interações vivenciadas em sala de aula pelos sujeitos pesquisados permitiram tornar visível que a leitura é uma prática social, e não se configura somente como habilidades técnicas e neutras, pois está imersa em princípios epistemológicos construídos socialmente. A implicação dessa concepção de leitura para a área da alfabetização reafirma a necessidade de se ensinar a tecnologia da leitura e da escrita sem, contudo, deixar de lado as dimensões sociais, políticas e ideológicas do ato de ensinar a aprender a ler e escrever.

ASSUNTO(S)

educação teses. leitura estudo e ensino teses. alfabetização de adultos teses. educação de crianças teses. psicologia educacional teses. linguagem e educação teses.

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