O painel brasileiro de mudanças climáticas na interface entre ciência e políticas públicas: identidades, geopolítica e concepções epistemológicas

AUTOR(ES)
FONTE

Sociologias

DATA DE PUBLICAÇÃO

02/09/2019

RESUMO

Resumo Este artigo examina de modo comparativo dois projetos distintos para o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). O primeiro projeto consistiu na criação, por parte de cientistas brasileiros, de um painel nacional aos moldes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Já o segundo foi a tentativa de um formulador de políticas climáticas de reunir renomados cientistas brasileiros da área para produzirem réplicas científicas a minutas de relatórios do IPCC que contivessem dados ou teorias que fossem contra o interesse nacional. Trata-se de duas tentativas de coproduzir as ciências climáticas e a ordem social com implicações para a produção de diferentes instituições e identidades. Ao mesmo tempo, os dois projetos embasaram-se em representações distintas sobre a geopolítica climática internacional e sobre a epistemologia das ciências. A partir dessa comparação, procuro avançar a crítica de Myanna Lahsen sobre o modelo linear das relações entre cientistas e formuladores de políticas públicas. Argumento que a interface ciência/políticas climáticas no Brasil não deve ser entendida como um espaço colaborativo no qual dados e teorias científicas fluem de modo não problemático da comunidade científica para formuladores de políticas. Essa interface é uma arena de disputa onde diferentes grupos de atores procuram produzir realidades sociais distintas.Abstract This paper seeks to comparatively examine two distinct projects to create a Brazilian Panel on Climate Change (PBMC). The first one consisted in the creation, by a group of Brazilian scientists, of a panel that mirrored the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) in Brazil. The second one was an attempt by a key climate policymaker to bring together renowned Brazilian climate scientists to produce scientific replies to IPCC drafts that contained data or theory contrary to national interests. These are both attempts to co-produce science and social order that implied in the production of different institutions and identities. They were also based on different epistemological views and representations of climate geopolitics. Based on this comparison I seek to advance Myanna Lahsen´s critique of the linear model of the interaction between scientists and policymakers. I argue that the climate science/policy interface in Brazil is not a collaborative space in which scientific data and theories flow in a non-problematic way to policymakers. Rather, this interface is an arena where different groups of actors dispute the production of distinct social realities.

Documentos Relacionados