O jogo verbal vs. não-verbal: (re)formulação de esteriotipias nas estampilustradas Primeiras estórias

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

A partir do quadro teórico da AD Francesa, considerando algumas noções da psicanálise freudo-lacaniana e algumas questões da Teoria da Enunciação, analisei aspectos do jogo verbal (V) vs. não-verbal (NV) que constitui, funciona e produz efeitos de sentido e de interpretação nas estampilustradas Primeiras estórias (PE) de Guimarães Rosa. Especificamente, analisei como esse jogo V vs. NV compõe uma base simbólica material híbrida em que discursividades são construídas e passam a significar o processo de (re)formulação de estereotipias nos contos: "Sorôco, sua mãe, sua filha", "O espelho" e "Substância". O processo de (re)formulação estereotípica é responsável por colocar a significação dos contos de PE no lugar do equívoco, cujo efeito paradoxo decorre da contestação e relativização de fórmulas estereotípicas como lugar de retorno, repetição e disseminação de certas redes de sentido em detrimento de outras (FERREIRA, 2001; SOUZA, 1999). Ao contestar a estabilidade de certos estereótipos via (re)formulação, o trabalho da função-autor (ORLANDI, 2001) consiste em deslocar PE enquanto objeto cultural do domínio de universos logicamente estabilizados, em que a relação entre o V e o NV é predominantemente de lateralidade, para o domínio dos universos não-logicamente estabilizados (PÊCHEUX, 1997b, 1997c), em que a relação entre o V e o NV é construída levando-se em conta a especificidade e a necessidade material do sistema simbólico a que pertencem. Dessa forma, o processo de (re)formulação estereotípica realizado instaura a construção de paradoxos como fórmulas cifradas correspondentes a certa leitura da condição do homem no mundo, temática primeira de PE. Assim sendo, ao fazer jogar o V com o NV, para significar a emergência de estereótipos (re)formulados, a função-autor "costura" as estampilustradas estórias como registros fotográficos da condição efêmera do homem no mundo: registros de instantes pinçados no/do infinito. Efemeridade que não comporta a completude, tampouco a unidade imaginária como regentes da constituição da ordem dos discursos, do caráter do sentido. Ao demandar um gesto de leitura que movimenta concomitantemente operações de deciframento e ciframento, a função-autor instaura, para as estampilustradas estórias, um lugar provisório para a interpretação, que não pode ser estabelecida como um fechamento para a significação dos contos. Ao contrário, a especificidade da relação V vs. NV determina o processo de (re)formulação estereotípica, apresentando as estampilustradas estórias como enigmas para os quais não há chaves de leitura, o que mantém a significação dos contos em aberto, ancorada na deriva, na contingência.

ASSUNTO(S)

ad estereótipo linguistica function-author non-verbal verbal primeiras estórias análise do discurso stereotype função-autor não-verbal rosa, joão guimarães rosa, 1908-1967 primeiras estórias crítica e interpretação verbal

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