O italiano falado em Curitiba por um grupo de falantes nativos que vive no Brasil há cerca de cinquenta anos / The Italian spoken in Curitiba by a group of native speakers who living in Brazil for fifty years

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

No final do século XIX e durante o século XX, a história do Brasil se caracterizou pela intensa imigração de homens e mulheres de diferentes idades, provenientes de muitas partes do mundo e que procuravam aqui um lugar para viver, trabalhar e encontrar condições de vida menos duras do que aquelas presentes nos lugares que, com tristeza, tiveram de deixar. Foram muitos os italianos que, desde 1875, começaram a chegar aos principais portos brasileiros. No Paraná, o fenômeno migratório teve início na mesma década, em consequência de campanhas de recrutamento que o governo paranaense promoveu a fim de atrair mão-de-obra italiana para a agricultura depois de abolida a escravidão. De fato, a partir daquela data, inúmeros italianos originários sobretudo das regiões setentrionais da Itália se estabeleceram primeiramente ao longo do litoral paranaense e, mais tarde, nos arredores da capital Curitiba, criando inúmeras colônias onde viviam de acordo com os usos e costumes da pátria-mãe. Mediante a realização de uma série de entrevistas, este estudo se propõe a analisar o léxico usado por um grupo de italianos, que vive na cidade de Curitiba, no Paraná, e que emigrou para cá ao fim da Segunda Guerra Mundial, no período compreendido entre o final dos anos quarenta e o início dos anos setenta. Nosso objetivo será também o de estabelecer quanto a língua italiana foi preservada por eles ou quanto o idioma sofreu interferências da língua portuguesa depois de vários anos de vida em um outro país. Os indivíduos entrevistados têm em comum diversas características: na realidade, além de viverem na mesma cidade, eles podem ser considerados bilíngues, ainda que falem quotidianamente apenas a língua portuguesa. Alguns deles chegaram a Curitiba no começo da adolescência e, bem depressa, para melhor se integrarem, abandonaram o uso da língua italiana, até mesmo em casa, e adotaram o português como nova língua materna. Outros, tendo chegado já adultos e depois de se casarem com pessoas da localidade, preferiram utilizar quotidianamente e ensinar aos próprios filhos a língua portuguesa em lugar da italiana. A maior parte deles mantém contato com a Itália e com o idioma italiano por meio de cursos de língua, encontros com outras pessoas pertencentes à comunidade ou simplesmente lendo livros ou assistindo à televisão italiana. Além disso, a muitos deles, por diversas razões, ligadas à guerra ou à impossibilidade econômica, não completou os estudos. Após um longo período de permanência fora da Itália constatamos, naturalmente, uma perda no repertório lexical de origem e a presença de algumas interferências da língua portuguesa na língua italiana falada. Fenômeno este amplamente justificado pelos quase cinquenta anos de vida longe da terra natal. Os fatores que determinam a manutenção ou a perda dependem da aproximação ou do distanciamento que os indivíduos mantêm com a comunidade italiana residente em Curitiba ou com a Itália e também do seu grau de escolaridade. Entretanto, apesar da clara influência da língua portuguesa sobre a italiana, podemos considerar que o italiano falado hoje pelos indivíduos objeto deste trabalho se preservou bem.

ASSUNTO(S)

linguistic attrition imigração immigration bilingualism erosão lingüística bilingüismo italiano italian language portuguese language português

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