O fenômeno da gravidez na adolescência em perspectivas diferenciadas e suas implicações nas relações pessoais, familiares e sociais / The phenomenon of teenage pregnancy in different perspectives and their implications in family, social and personal relationships

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

20/06/2011

RESUMO

No Brasil, a taxa de fecundidade na adolescência período compreendido entre 10 e 19 anos tem aumentado, assim como em outros países. A intensidade desse fenômeno social é derivada das mudanças perpassadas pela sociedade, com reflexos no sistema familiar. O caráter transitório das relações e dos papéis das instituições tem levado a maior liberdade reprodutiva, no período de transição entre infância e a idade adulta, ou seja, o exercício da sexualidade tem sido vivenciado cada vez mais cedo, impulsionado por fatores socioculturais e midiáticos. Novas concepções, valores e padrões de comportamento influenciam a vivência precoce da sexualidade. Assim, muitas adolescentes, além de viverem os conflitos próprios dessa faixa etária, ainda podem conviver com outra questão conflituosa: a gravidez, que pode resultar tanto da vivência da sexualidade da adolescente, quanto por violência sexual. A gestação na adolescência é, muitas vezes, inesperada e indesejada, significando a interrupção do seu processo de formação, que pode conduzir a situações conflituosas, com possibilidade de violência doméstica em função das relações de poder e dominação, operando no nível da linguagem e do simbólico. Nesse contexto, o presente estudo objetivou analisar o fenômeno da gravidez na adolescência em contextos diferenciados, identificando seus impactos nas relações pessoais, familiares e sociais da adolescente, bem como sua associação com situações de trauma e violência. Participaram da pesquisa os Agentes Comunitários de Saúde (ACS); 18 adolescentes que tiveram filhos entre os anos de 2007 e 2010; 11 famílias das adolescentes e 15 pais de seus filhos. Para coleta de dados fez-se uso da pesquisa censitária e documental para examinar a realidade da gravidez na adolescência ao nível do município de Rosário da Limeira, MG; realizou-se o grupo focal junto aos ACS; além disso, também foi utilizada a entrevista semiestruturada aplicada às adolescentes, suas famílias e pais de seus filhos. A situação da gravidez precoce local não se diferencia da realidade nacional. A média de idade da primeira gestação entre as adolescentes entrevistadas foi de 16,7 anos. Quanto ao local de moradia percebeu-se que 67% das adolescentes eram residentes da área urbana do município, na época da gravidez, enquanto 33% moravam na área rural. Quanto à escolaridade, observou-se maior incidência de adolescentes que cursaram Ensino Fundamental Incompleto. Quanto ao estado civil, antes da gravidez, 66% das adolescentes eram casadas e apenas 16% continuaram solteiras após o nascimento das crianças. Na percepção dos ACS, as adolescentes convivem com a violência simbólica, principalmente pela pressão psicológica e imposição de novos comportamentos, por parte das famílias, que veem a gravidez na adolescência como uma situação de vergonha e o casamento como uma opção naturalizada dentro dos projetos de vida das adolescentes. No que diz respeito às motivações da gravidez, pôde-se perceber que metade das adolescentes desejava ser mãe. As demais não planejavam ou queriam filhos naquele momento. As mudanças que ocorreram na qualidade de vida da adolescente, por conta da gravidez, estavam relacionadas predominantemente ao abandono dos estudos, menos lazer e vida própria, além de limitação de recursos financeiros. Para a maioria das mães das adolescentes a gravidez foi motivo de insatisfação, sendo percebido como um fator negativo, principalmente pela preocupação com as oportunidades que as filhas deixariam de ter por conta das novas responsabilidades, próprias da maternidade. Para a maioria dos pais dos bebês, a descoberta da gravidez das adolescentes trouxe felicidade e, ao mesmo tempo, preocupação; ou seja, uma sobreposição de sentimentos. No que concerne às situações de violência foi mais comum aquela de natureza psicológica, vivenciada principalmente pelas adolescentes do meio urbano, com a imposição de novos comportamentos, além das cobranças, em função de um maior contato com outras instituições socializadoras, além da família. A gravidez na adolescência está associada à violência de natureza simbólica, que tem permanecido muitas vezes invisível, minimizada, negada e naturalizada pelas disposições interiorizadas do campo de vivência e, mais especificamente, pelos papéis estereotipados de gênero, que impõem às adolescentes novos comportamentos, além de posição de silenciamento e submissão diante de novos papéis e funções.

ASSUNTO(S)

economia domestica gravidez na adolescência perspectivas implicações teenage pregnancies prospects implications

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