O estrangeiro : um conceito limite entre psicanalítico e político

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1997

RESUMO

Esse trabalho pretende estudar o estrangeiro enquanto conceito limite entre o político e o psicanalítico, como algo que faz fronteira entre duas disciplinas, dois campos teóricos: a psicanálise e as ciências humanas. A figura do estrangeiro será aqui abordada como algo que se situa na fronteira do subjetivo singular com o social. Para o senso comum, estrangeiro é alguém que vem de outro lugar. A categoria sócio-política que o estrangeiro ocupa, fixa-o numa alteridade que implica numa exclusão. Tento aqui, ao sobrevoar a cultura grega e a ética judaica, mostrar que nem sempre foi assim. Nelas o estrangeiro, ainda que nem sempre fosse bem-vindo, não era exposto ao ódio racista. Foi, por volta do século XVIII, que o não familiar se transformou em conceito político, a partir do qual, no mundo moderno, surge o discurso racista, fruto do discurso da Ciência. O racismo é uma invenção moderna. E será que não acontece algo semelhante com o indivíduo? A criança, que de início a todos sorri, começa a apresentar as primeiras reações de medo perante o rosto desconhecido por volta do oitavo mês de vida. Essas reações não são, portanto, inatas, são conseqüência do reconhecimento da própria imagem no espelho. O Sujeito, assim como as sociedades, se constitui através da exclusão do estrangeiro. Trataremos aqui, de relacionar o inconsciente freudiano com as transformações sociais e históricas do mundo contemporâneo. Mostrar que a grande descoberta de Freud foi a de que o homem é impelido por algo que lhe é estrangeiro, que ele próprio é dividido. E que é no interior de seu aparelho psíquico que ele vive, com inquietação, o sofrimento do que lhe é estrangeiro. Uma psicanálise, ao possibilitar que o Sujeito se familiarize com o estrangeiro em si mesmo, pode vir a modificar a sua relação singular com o Outro, permitindo-lhe transformar aquilo que tem função de hostilidade em hospitalidade. Para que isso aconteça é preciso que o analista suporte o lugar do estrangeiro na transferência, permitindo que se viva a experiência do estranho

ASSUNTO(S)

psicologia

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