O ensino de ciencias na problematica da contradição ou coexistencia entre ciencia e religião

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1995

RESUMO

Neste trabalho analisa-se o papel do ensino de ciências na problemática da contradição ou coexistência entre ciência e religião. Trabalhando como professora de química no CEFAM (Centro Especifico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério Campinas, a observação do comportamento dos alunos pentecostais - passivos frente à Idéias científicas abordadas no meu ensino que contradiziam suas crenças religiosas - motivou-me a Investigar como tais alunos enfrentam o conflito entre concepções sobre os fenômenos da natureza ensinados nas aulas de ciências e Idéias e crenças desenvolvidas através de sua formação religiosa. Através de entrevistas com esses alunos e da análise de participações em um debate sobre Teorias da Evolução constatei que eles convivem de forma não conflituosa com Idéias científicas e religiosas. Isto porque para eles as explicações científicas são Importantes para resolver problemas do dia a dia enquanto que as concepções religiosas fornecem as explicações para as questões de valores e para as finalidades da existência. Eles, conseqüentemente defendem a necessidade da neutralidade do professor e da escola frente a concepções diferentes, consideram papel do professor ensinar sem se posicionar valorativamente sobre o que ensina. Passei a me perguntar que concepção de ciência vem predominando no ensino escolar de forma a permitir aos alunos considerarem os ensinamentos científicos úteis para o dia a dia, porém não Importantes para pensar sobre grandes questões da existência. Seria a profunda religiosidade dos pentecostais a responsável por esta concepção de ciência essencialmente utilitarista Ou esta seria decorrente do ensino de ciências como vem sendo ministrado na escola? A busca de respostas para tais questões levou-me a ampliar a Investigação junto a um grupo de 28 alunos, ingressantes no CEFAM em 1994, religiosos mas não exclusivamente pentecostais e mesmo não religiosos. Foram utilizados como procedimentos investigativos: entrevistas, questionários, debates e análise e produção de textos pelos alunos. Esta segunda parte da pesquisa velo confirmar resultados obtidos na Investigação exploratória, Isto porque: i) não só os alunos pentecostais mas também aqueles ligados à religiões menos inseridas no cotidiano dos fiéis mostraram desconfiança em relação às explicações científicas quando comparadas às explicações da Bíblia Sagrada; U) foi comum entre os demais alunos, mesmo aqueles que se dizem sem religião, a associação entre conhecimento científico e valor utilitário; 111) predominou a Idéia de que a ciência é construída a partir de observações seguras e objetivas dos fenômenos da natureza e que seus postulados são afirmações sempre comprovadas experimentalmente; Iv) foram explicitadas pelos alunos, não só os religiosos. a função da escola e do professor como essencialmente burocráticas. Essas constatações levaram-me a questionar se a visão utilitarista de ciência e a concepção burocrática da função do professor manifestadas pelos alunos estão ligadas à concepção de ciência que vem predominando no ensino escolar. Nessa perspectiva considerei ser necessária a busca de explicações na análise da epistemologia subjacente ao ensino de ciências. Três autores embasaram a formulação das conclusões: Horkheimer, com seu trabalho de caracterização da razão instrumental. em oposição à razão especulativa; Heller. através de suas categorias de análise do pensamento cotidiano. e Bachelard. com suas obras sobre a construção do conhecimento clentff1co como processo de ruptura e oposição ao conhecimento comum. Na análise desenvolvida a escola aparece como Instituição eficientemente. Incorporada às necessidades da razão instrumental. trabalhando principalmente como difusora de idéias "úteis" para o desempenho adequado das funções exigidas pela sociedade contemporânea. Neste contexto, o ensino escolar continua enfatizando a concepção de ciência empirista-indutivista associada a uma prática escolar cujo papel favorece as formas de pensar do cotidiano. Propõe-se. ao final. a necessidade de reflexão sobre cursos de ciências abertos à especulação criadora. que possibilitem aos alunos formas de pensar diferentes daquelas cotidianas. Com Isto. não se tem a pretensão de que os alunos abandonem suas crenças religiosas, mas sim a de abrir-Ihes outros caminhos para a busca de explicações sobre questões de fundo valorativo e ético e para a construção de utopias

ASSUNTO(S)

ensino ciencia - estudo e ensino religião e ciencia

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