O encontro do teatro musical com a arte engajada de esquerda: em cena, o Show Opinião (1964)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

A presente pesquisa buscou construir um diálogo entre Arte e Sociedade partindo do espetáculo musical Show Opinião realizado em 1964 pelo Grupo Opinião e pelo Teatro de Arena de São Paulo na cidade do Rio de Janeiro. O musical de Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes e Armando Costa marcou a cena teatral brasileira não só pelo caráter inovador de sua dramaturgia, mas por ter sido a primeira experiência artística que criticava abertamente o regime de exceção que se instaurara no Brasil em 1964. Ao discutir problemas políticos e questões culturais da sociedade brasileira da década de 1960, o Show Opinião vem romper com a ideia de que o teatro engajado e comprometido politicamente é apenas o teatro sério, didático, esquemático e que obviamente não faz rir. Nesta tese, as intervenções da música popular brasileira, do riso, das situações cômicas, dos inusitados personagens tipos e de outros elementos fantasiosos e ficcionais da cena teatral serão entendidas e valorizadas como instrumentos políticos de resistência capazes de suscitar a plateia para o debate e intervenções que levem ao questionamento das arbitrariedades políticas perpetradas pelo Golpe Civil Militar em 1964. Embora o Show Opinião seja uma referência importante na cena teatral da década de 1960, muitas polêmicas surgiram acerca de sua apresentação. O espetáculo, estruturado a partir de fontes da cultura popular e da música brasileira participante em plena ascensão no mercado radiofônico e fonográfico do País , foi compreendido por críticos, intelectuais e jornalistas como uma manifestação romântica e acolhedora do povo sofredor. Acrescente-se, ainda, que a presença assídua da música popular em cena, fez com que muitos interpretassem o musical como uma mercantilização da luta política que se construía no País. Diferentemente dessas proposições, esta tese parte da hipótese de que o Show Opinião é uma importante manifestação de resistência política e organizada contra o Golpe Civil Militar instaurado em 1964. Mas, para que se constitua como uma manifestação de resistência argumenta-se que o espetáculo não pode ser compreendido apenas sob o impacto do Golpe. Assim, as matrizes do musical politicamente engajado se encontram na tradição do Teatro de Revista do século XIX, a partir da valorização do riso, do cômico, da ironia e da música; no Centro Popular de Cultura da UNE, que, com suas produções artísticas e estéticas voltadas para a valorização da cultura popular, não cansou de lançar mão de elementos lúdicos, fantasiosos, cômicos e musicais para politizar a cena teatral; no restaurante Zicartola, palco da tradicional música popular brasileira samba, xote, baião , uma casa aglutinadora de intelectuais e artistas dispostos a enfrentar a ditadura. Por fim, o engajamento político do Show Opinião se completa com as experiências artísticas e estéticas do teatro alemão, cujas referências se encontram em Bertolt Brecht e Erwin Piscator, a partir da valorização da música, do gesto, do estranhamento e da revista em cena. Por agregar no palco uma forma estética inovadora texto teatral aliado à música de protesto e a fontes populares a um conteúdo explicitamente político, esta tese argumenta ser o Show Opinião uma manifestação de resistência aos acontecimentos políticos de 1964.

ASSUNTO(S)

show opinião ditadura militar resistência política historia história e teatro - brasil brasil - política e governo - 1964 teatro brasileiro teatro e sociedade dictatorship political resistance

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