O discurso narrativo na doença de Alzheimer e na demencia fronto-temporal

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Além das alterações léxico-semânticas, transtornos discursivos também têm sido freqüentemente relacionados as demências. Eles, entretanto, não estão plenamente determinados, principalmente com relação à doença de Alzheimer (DA) e à demência fronto-temporal (DFT), porque a maioria dos estudos não têm examinado sistematicamente a produção discursiva destes pacientes de acordo com diferentes níveis de análise. O objetivo desta pesquisa foi investigar a habilidade discursivo-narrativa e seus correlatos neuropsicológicos em pacientes com DA e com a variante frontal da DFT. Para tanto nós estudamos 47 sujeitos, divididos em quatro grupos: (1) pacientes com DA; (2) pacientes com DFT; (3) pacientes com lesão cerebral restrita aos lobos frontais; e (4) sujeitos-controle não neurológicos. Todos realizaram avaliação neuropsicológica (incluindo o Teste de Vigilância de Strub &Black, subtestes da Escala de Inteligência para Adultos e da Bateria de Memória de Wechsler, Teste de Fluência Verbal, Teste de Nomeação de Boston, Teste de Token, Wisconsin Card Sorting Test, Teste de Stroop, Teste de Organização Visual de Hooper, e Teste de Lista de Palavras) e avaliação discursiva propondo duas tarefas de geração de história: narração baseada em figuras temáticas (seriadas e únicas) e narração espontânea. As produções foram transcritas e quantificadas de acordo com três níveis de análise: microestrutural (organização superficial da narrativa), macroestrutural (organização lógica da narrativa) e pragmática (relacionada à situação comunicativa). A avaliação cognitiva mostrou diferença significativa entre os grupos nos testes de atenção, funções visuo-espaciais, memória, linguagem, juízo e raciocínio abstrato, funções executivas e nível intelectual global. Na avaliação discursiva, a diferença significativa entre os grupos apareceu nos três níveis de análise realizados. A habilidade discursiva correlacionou-se significativamente com testes de linguagem, funções visuo-espaciais, memória, funções executivas e nível intelectual. Nossos resultados sugerem um prejuízo narrativo maior na DFT que na DA. Quando comparadas às produções dos sujeitos normais, as narrativas dos sujeitos com DFT estavam prejudicadas nos níveis léxico, semântico, sintático e sobretudo macroestrutural, enquanto que na DA, as dificuldades semânticas e macroestruturais encontradas, pareceram ser secundárias a alterações percepto- visuais e practognósticas. A redução no nível de complexidade estrutural apresentada pelo grupo DFT sugere uma alteração na dimensão cognitiva da narrativa, que colocaria limites à sua expressão lingüística.

ASSUNTO(S)

cognição linguagem doença de neuropsicologia alzheimer

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