O debate sobre aquecimento global em sala de aula: o sujeito dialógico e a responsabilidade do ato frente a um problema sóciocientífico controverso

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A utilização de temas controversos no ensino básico e superior, como expressão do currículo CTS Ciência, Tecnologia e Sociedade, tem se multiplicado nos últimos anos. Reconhecemos a necessidade de compreendermos mais profundamente o posicionamento dos sujeitos frente aos temas controversos, pois estamos diante da construção de uma nova relação entre estes e a Ciência, não mais a tratando como depositária de verdades sólidas e lineares, mas como parte de uma complexa rede de fenômenos, em que previsões absolutas e acabadas são cada vez mais inadequadas. Educar sintonizado a esta mudança de perspectiva, significa necessariamente valorizar a dimensão controvertida da Ciência, o valor da dúvida e do questionamento no interior dela. Neste trabalho tivemos como objetivo analisar três episódios transcorridos em duas aulas de química ministradas a adolescentes na faixa etária média de 15 anos, em uma escola pública federal. Várias vozes de cientistas e ambientalistas foram trazidas para leitura de pequenos grupos e discutidas em plenária, momento em que focalizamos as interações discursivas dos sujeitos envolvidos sobre o efeito estufa e sua controvertida relação com o aquecimento global. Elegemos quatro questões centrais: Que vozes estão presentes neste debate, e como elas se encontram, são assimiladas e reacentuadas mutuamente pelos sujeitos? Quais os sentidos emergentes do diálogo entre os vários sujeitos envolvidos? De que forma as diferentes enunciações da professora, textos escritos e discursos dos pares, que circulam nesta sala de aula, constituem os processos de elaboração dos posicionamentos pessoais? Em que medida os sujeitos, ao se posicionarem, vivenciam responsável e responsivamente seus atos? Utilizamos como referencial a Teoria da Enunciação de M.M. Bakhtin, especialmente em duas categorias: o movimento de apropriação da palavra alheia e a responsabilidade/responsividade do ato do sujeito. A opção pela análise das enunciações pretendeu garantir unidade entre o conteúdo do que foi dito e o modo como foi dito. Como resultados, pudemos flagrar alguns processos que nos indicam a apropriação da palavra do outro, como uma atitude ativa responsiva e de como este processo é único, singular e individual. Há identificações entre eles, mas também desidentificações. As apropriações dos discursos consensos e dissensos ocorrem em diferentes ritmos dentro de um mesmo grupo e também entre sujeitos de grupos diferentes. Neste sentido, é possível observar que há diferentes graus de consciência da alteridade. E, ainda que haja demarcação de ideias, há diferentes acentos afetivos: uns mais reticentes, outros mais apaixonados e certos de suas posições. Quanto à responsabilidade no posicionamento, observamos deslocamentos de um lugar de todos ou de ninguém para um lugar de indivíduo que toma consciência de sua unicidade e responde apesar da não certeza acerca do tema debatido ou do posicionamento da maioria. Como implicação desta pesquisa, discute-se a importância de valorizar a dúvida e a incerteza na educação em ciências, bem como a valorização da subjetividade propiciada pela discussão de temas controversos em sala de aula.

ASSUNTO(S)

educação  teses prática de ensino teses aquecimento global teses educação ambiental

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