O conceito de língua/linguagem em 1984 de Orwell

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

29/11/2011

RESUMO

Este trabalho discute o conceito de língua/linguagem em 1984 de George Orwell e relaciona esse conceito com o da linguística oficial russa das décadas de 1920/1930. Para tanto, selecionamos, especificamente, a novilíngua como corpus de pesquisa. A novilíngua consiste em um sistema linguístico elaborado pelos detentores do poder da ficção orwelliana que, quando finalizado e colocado em uso, impediria a expressão de opiniões contrárias ao regime e a existência de outras línguas. A característica central para a existência da novilíngua é a destruição da língua vigente. Ao pesquisarmos a política linguística oficial russa das décadas de 1920 e 1930, descobrimos um projeto similar de destruição das línguas existentes e de criação de uma língua única. Nosso objetivo de pesquisa, portanto, é descrever, analisar e interpretar, por meio da materialidade linguístico-discursiva da novilíngua, os discursos históricos que atravessam a obra e, a partir daí, estabelecer relações dialógicas entre o conceito de língua/linguagem de 1984 e esse mesmo conceito na linguística oficial russa das décadas de 1920/1930. Questionamos em nosso trabalho qual é o conceito de língua/linguagem da novilíngua e da linguística oficial russa das décadas de 1920/1930, quais relações dialógicas podem ser estabelecidas entre o conceito da novilíngua e esse mesmo conceito da linguística oficial russa dos anos 1930, quais relações dialógicas podem serestabelecidas entre o léxico da novilíngua, que trata o pensamento discordante ao sistema totalitário como crime, e a sociedade stalinista no que diz respeito à restrição da liberdade de expressão e quais conhecimentos sobre a linguagem humana nossa análise dialógica vai de encontro. Este estudo recupera alguns discursos que circulam sobre a história da Rússia desde o final do período czarista até o auge do expurgo stalinista, identifica a teoria linguística oficial da Rússia das décadas de 1920/1930 e mostra como a obra 1984, de Orwell, materializa os discursos advindos desse período histórico. Nossa metodologia para composição do corpus e descrição da novilíngua obedeceu à seguinte dinâmica: a) descrever o processo de destruição da língua vigente para a construção da novilíngua; b) levantamento do termo novilíngua e dos termos em novilíngua, em toda a narrativa; c) construção de um glossário que contém a definição das palavras em novilíngua. Por meio da descrição da novilíngua e da nossa respectiva análise, foi possível constatar que a linguagem humana, tanto na vida como na arte, é capaz de criar mecanismos compensatórios que atenuam e anulam as forças que querem acabar com o plurilinguísmo e assim manter a linguagem humana, mesmo sob forte coerção de sistemas políticos totalitários, pluriacentuada e ideologicamente saturada. Identificamos também a diferença entre a linguagem científica e a ficcional: na linguagem científica não há divergência entre o enunciado e a enunciação; na linguagem ficcional essa divergência é constituinte. Este trabalho está embasado pela teoria Bakhtiniana, que discute a linguagem pelo seu viés sócio-histórico ideológico. Utilizamos os conceitos de axiologia, signo ideológico, infraestrutura e superestrutura, dialogismo, forças centrípetas e centrífugas.

ASSUNTO(S)

1984 - george orwell marrismo novilíngua monologismo dialogismo forças centrípetas centrífugas linguistica aplicada marrism newspeak monologism dialogism centripetal centrifugal forces

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