O COMENTÁRIO ENSAÍSTICO COMO TRADUÇÃO: O EXEMPLO DE MON CŒUR MIS À NU, DE CHARLES BAUDELAIRE

AUTOR(ES)
FONTE

Cad. Trad.

DATA DE PUBLICAÇÃO

09/05/2019

RESUMO

Resumo Ao traduzir o projeto póstumo Mon cœur mis à nu, de Charles Baudelaire, a partir dos seus muitos inacabamentos, propus um espaço de reescrita em que três traduções possíveis operam simultaneamente, cada qual colocando em cena uma dimensão específica dos seus inacabamentos: marcas matéricas do manuscrito; inexistência de uma ordenação definitiva; rede de historicidades das edições e traduções anteriores. Neste ensaio, ocupo-me especificamente do caso da (não) ordenação de Mon cœur mis à nu, procurando mostrar como a estratégia do comentário-ensaio como tradução me permitiu estabelecer uma relação com Mon cœur mis à nu que nem recorre a soluções apressadas (ordenação randômica digital, edição em folhas avulsas etc.) nem se limita a uma inviável restituição linear e cronológica dos manuscritos. Ao percorrer o texto ensaisticamente, num tipo específico de comentário que Antoine Berman chegou a esboçar teoricamente no seu também inacabado L’âge de la traduction, produz-se uma tradução possível desse texto, desenhada a partir de linhas de força que, atravessando a leitura e a escrita ensaística, talham, estilhaçam e rearranjam o original. Para diferenciar o comentário ensaístico de tradução da nota de tradutor, também é brevemente exposto o trabalho de Ana Cristina César sobre o conto Bliss, de Katherine Mansfield.Abstract When translating Charles Baudelaire’s posthumous Mon cœur mis à nu stemmed from its many unfinishments, I offered a rewriting space in which three possible translations run simultaneously, each one of them presenting a specific dimension of its unfinishments: material marks of the manuscript; the inexistence of a defined ordering; a grid of historicities of earlier editions and translations. In this essay, I undertake specifically the case of Mon cœur mis à nu’s (non) ordering, seeking to reveal how the strategy of preparing a commentary-essay understood as a translation allowed me to establish a relation to Mon cœur mis à nu that neither appeals to rushed solutions (random digital ordering, loose leafs edition etc.) nor limits itself to an impractical linear chronological restoration of the manuscripts. In traversing the text in an essayistic way, in a specific form of commentary that Antoine Berman came to outline theoretically in its also unfinished L’âge de la traduction, a possible translation of this text is produced, drawn from lines of force that, crossing essayistic reading and writing, carves, shatters and rearranges the original. In order to discriminate essayistic commentary of translation from translator’s note, Ana Cristina Cesar’s work on Katherine Mansfield’s tale Bliss is also briefly handled.

Documentos Relacionados