O carnaval de Ouro Preto: mercado e tradição (1980-2011)

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

29/02/2012

RESUMO

O trabalho tem como objetivo compreender as principais transformações do carnaval da cidade de Ouro Preto, em um período compreendido entre os anos de 1980 e 2011, relacionadas, especialmente, às iniciativas mercadológicas percebidas ao longo dessas três décadas e aos discursos vinculados à ideia de tradição. A escolha da temporalidade da pesquisa observou acontecimentos específicos da cidade de Ouro Preto, como a sua elevação à Patrimônio Cultural da Humanidade em 1980, e um contexto mais amplo de inserção da festa, como a consolidação, a partir da década de 1990, das indústrias do lazer e do entretenimento no Brasil. Para o alcance do objetivo proposto, foi realizada pesquisa bibliográfica, por meio do diálogo com referenciais teóricos que abordam questões-chave para a compreensão do objeto, e pesquisa documental. Esta última contou, principalmente, com o estudo de dois jornais: o jornal Estado de Minas, escolhido por sua representatividade no cenário mineiro, e o jornal O Liberal, eleito por ser um dos principais veículos de comunicação da história recente de Ouro Preto. O trabalho foi dividido em três capítulos, observando acontecimentos importantes no carnaval da cidade, que serviram como marcos para pensar as mudanças da festa. Do início dos anos 1980 ao ano de 2011, transformações significativas aconteceram na estrutura do carnaval e nas formas de veiculação pelos jornais. De um carnaval fortemente construído pela população local, vivenciado nas ruas da cidade e com pouca expressão midiática nos anos iniciais da pesquisa, a festa ouro-pretana tornou-se, nos anos 2000, um carro-chefe de veiculação da festa carnavalesca em Minas Gerais. No decurso das três décadas pesquisadas, cresceram, consideravelmente, os investimentos privados na conformação e divulgação do carnaval e a promoção do turismo por meio da festa, ocasionando a necessidade de novas formas de organização e divulgação. Em meio a diversas manifestações criadas ou mantidas na temporalidade estudada, como a janela elétrica, a janela erótica, as escolas de samba e os blocos caricatos, como o Zé Pereira dos Lacaios e a Bandalheira, emergiu, na última década, um novo formato para o carnaval. Com a justificativa inicial de proteção ao patrimônio e de segurança aos foliões, surgiram grandes shows promovidos pela Prefeitura Municipal em pontos afastados do centro histórico, culminando na criação do Espaço Folia, em 2006: uma área própria para grandes eventos, privada e com a cobrança de ingressos por meio da aquisição do abadá. Este fato contribuiu para a consolidação da cultura carnavalesca republicana como o principal símbolo da festa na cidade, veiculada como uma de suas mais legítimas tradições. Percebeu-se, pelas fontes, uma forte intenção em tornar o carnaval de Ouro Preto o principal de Minas Gerais e em destacá-lo entre as demais festas do interior brasileiro. Nesse processo, a ideia de tradição, primeiramente ligada a uma noção de antiguidade das manifestações, intrínseca no próprio sentido de existência da festa, passa a servir a três funções principais: justificativa das transformações; elo entre um mercado global que começava a se consolidar na festa e ao passado que a legitimava; e diferencial para um carnaval tornado produto. Assim, pode-se concluir que a ideia de tradição foi essencial para as mudanças percebidas no carnaval da cidade, justamente (e, paradoxalmente) pela imutabilidade conferida ao passado e por certo consenso de que tradição não se discute.

ASSUNTO(S)

lazer teses.

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