O caminho entre a percepção, o impacto no solo e as metodologias de manejo : o estudo de trilhas do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira-SP

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2004

RESUMO

As trilhas em ambientes naturais adquiriram uma função na contemporaneidade que é a de proporcionar o contato do homem com o ambiente no qual ela se insere. Isso porque a dinâmica social impõe-nos um cotidiano urbano cuja paisagem é completamente antropizada. Esse mundo antropizado leva cada vez mais a humanidade a necessidade de regressar a natureza, como forma de resgate da ancestralidade, consequentemente gerando substancial aumento de demanda sobre as trilhas em ambientes preservados.O aumento do número de visitas nas trilhas tem, invariavelmente, acelerado os processos naturais de degradação, como a erosão, lixiviação e laterização do solo, com reflexos sobre a manutenção da vegetação que encontra um ambiente edáfico diferente para fixar suas raízes. Desde o início da década de 1980 vem-se estabelecendo algumas teorias para a análise, planejamento e monitoria das trilhas que visam equacionar o número de visitas e a qualidade do ambiente. Elas tentam garantir perpetuidade do ambiente e a realização da satisfação buscada pelo visitante, considerando os diversos fatores envolvidos, tais como: as mudanças bio-físicas ocasionadas com a manutenção do traçado da trilha; as alterações necessárias e possíveis para se manter a satisfação na busca do regresso à natureza; a representação que o usuário tem do ambiente da trilha e dos impactos do uso; qual o número ideal de visitas; que indicadores podem facilitar na leitura do grau de impacto.Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa realizada em duas trilhas sob ambientes naturais preservados na Serra de Paranapiacaba, no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, no ano de 2003, onde as trilhas para o portal da caverna Casa de Pedra e a do rio Betari (que leva às cachoeiras das Andorinhas e Betarizinho) foram estudadas. Buscou-se estabelecer a relação entre o uso e o grau de impacto através da análise de amostras do solo, da representação do usuário e da degradação encontrada ao longo do traçado. Na trilha para o portal da Casa de Pedra a teoria de Capacidade de Carga foi calculada para comparação com o estado encontrado no traçado e o número de visitas atual, o que indicou que o alto grau de impacto devesse às características ambientais, como inclinação e largura, mais que o número de visitas. As análises do solo consideraram as frações texturais e minerais, na tentativa de se estabelecer uma relação que indicasse o grau de degradação encontrado. Para tanto foram coletadas amostras do leito da trilha e de um testemunho que, comparadas, indicaram a alteração causada pelo uso do solo. Para que algum dos itens analisados pudesse demonstrar sua tendência para ser considerado indicador de impacto foram considerados traçados de trilha sobre variados substratos pedológicos, quais sejam: solos franco-arenosos na trilha do Betari e argilo-siltoso a franco-siltosos na trilha do portal da Casa de Pedra. Os solos demonstraram tendência de diminuição da Matéria Orgânica e de Fósforo nas amostras em que a degradação foi mais pronunciada e que apresentaram ausência de raízes no perfil superficial, mas não demonstraram essa tendência nos outros pontos. A textura demonstrou variabilidade positiva com a degradação observada quando as frações foram plotadas no diagrama triangular de textura. O estudo das representações sociais dos usuários foi realizado com os visitantes que visavam o turismo, funcionários do parque e com moradores tradicionais que usam as trilhas. As entrevistas se encaminharam de forma aberta pois se mostraram mais adequadas na busca da resposta ao significado da trilha no universo psicológico do usuário e dos fatores associados ao uso. As entrevistas revelaram que para os usuários, indistintamente, a trilha não impacta o ambiente e não oferece risco à perpetuação dele. Já ao definir o que é impacto sobre a trilha, relataram a alteração da floresta como maior efeito do uso, dentre muitas citações, isso vem indicar a falta de introspecção das conseqüências do uso da trilha. Já quanto ao significado da trilha, a população tradicional considera-a como uma utilidade e como parte da paisagem, ao passo que os visitantes de outras regiões a vêem somente como caminho para os atrativos e uma oportunidade de apreciar a natureza e de aproximação com a floresta. Uma intervenção nos primeiros seiscentos metros da trilha do Betari, que alteraram substancialmente as características da paisagem com a construção de escadas, drenagens, alargamento do leito, cava de barrancos e amontoamento de seixos com soldagem por argamassa de cimento foram citados como impacto negativo por todos os grupos entrevistados. Essa intervenção, apesar de utilização de materiais locais, interferiu na satisfação do usuário, que em sua maioria entende a trilha como uma forma de inserção na natureza. As trilhas pesquisadas deixaram claro que o primeiro fator limitante para a gestão é a própria existência da trilha que mantida sobre o ambiente da floresta durante períodos de dezenas de anos, interfere na manutenção das características naturais do solo e também da paisagem. O uso constante ajuda à degradação por impedir a manutenção da matéria orgânica da floresta sobre o solo, pela diminuição do número de raízes e pela facilitação do escoamento, percolação e lixiviação do solo, uma vez que expõe os sedimentos à ação das águas e da insolação.

ASSUNTO(S)

trilhas caminhada em trilhas solos impacto ambiental trails soils environmental impact analysis

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