O atendimento psicanalítico do bebê com risco de autismo e de outras graves psicopatologias: uma clínica da antecipação do sujeito

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

A autora se propôs a articular subsídios teórico-clínicos capazes de sustentar o atendimento psicanalítico precoce de bebês em situação de risco psíquico (autismo e outras psicopatologias graves), que se configura através de sinais de dificuldades no estabelecimento do laço com o agente maternante que esteja dificultando a subjetivação. Há um consenso entre profissionais de variadas profissões que tratam da criança autista em considerar que quanto mais precoce iniciamos o atendimento nestes casos, melhor a evolução. A medicina explica o fato pela maior neuroplasticidade cerebral. Como a psicanálise pode explicá-lo, se o tempo para a psicanálise é lógico e não cronológico? Iniciamos com um percurso pelo conceito de autismo na psiquiatria questionando as últimas classificações, que abarcam condições que apresentam o autismo enquanto sinal fenomenológico, ampliando em muito a incidência da síndrome. Questionamos a utilidade da oposição psicogênese versus organogênese, que explica por que pouco caminhamos no tratamento destas crianças. Utilizamos em seguida sinais desenvolvimentistas para a detecção precoce, visando a um tratamento precoce e não a um diagnóstico precoce, que pode muitas vezes, ao rotular, definir um destino que ainda é passível de mudanças, segundo a psicanálise. Percorremos os autores que foram mais relevantes em nosso estudo teórico-clínico do autismo dento da psicanálise, privilegiando os casos Dick (por Klein), o caso Timmy (por Meltzer), o caso Marie-Françoise (pelo casal Lefort) e o caso Marina (por Laznik), procurando correlacionar a idade no início do tratamento com a melhor evolução clínica. Realmente, os casos que foram atendidos mais cedo pela psicanálise tiveram a melhor evolução clínica. O mesmo não podemos dizer dos casos diagnosticados precocemente no artigo inaugural de Kanner (1943), que não tiveram melhor evolução do que os que foram mais tardiamente diagnosticados. Isso corroborou a nossa hipótese de que o importante é o tratamento precoce e que devemos evitar dar um diagnóstico psiquiátrico precoce, que pode funcionar como uma nomeação para estes casos, em que a incidência do simbólico já claudica. O diagnóstico psicanalítico, ao contrário, vem com o tempo e é feito sob transferência, considerando de que modo a interdição vige no sujeito. Destacamos a importância do manhês, maneira particular que as mães têm de falar com seus bebês na subjetivação, além de outros passos fundamentais da constituição do sujeito. Trabalhamos um caso de nossa clínica (Maurício) que já nos chegou com a estrutura cristalizada. Foi possível um trabalho, ainda que com mais dificuldades. Em seguida trouxemos um caso clínico de risco de autismo e outros de outras graves psicopatologias (Rafael e Lúcio). Todos estes casos estão em atendimento na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte no Projeto de Intervenção a Tempo. Busca-se, nos atendimentos clínicos, o (r) estabelecimento de um laço da mãe com seu bebê através do brincar. A suposição de sujeito é fundamental. Seguimos nos questionando se, ao atendermos precocemente, trata-se de prevenção ou de antecipação. Trouxemos então questões que a infância nos coloca em relação ao estabelecimento do tempo. Nosso trabalho parece sugerir um contraponto à dissolução da criança proposta pela perspectiva estruturalista.

ASSUNTO(S)

psicanálise teses. psicologia teses. autismo teses. autismo em crianças.

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