Novas tecnologias reprodutivas conceptivas : fabricando a vida, fabricando o futuro

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2003

RESUMO

Esta tese discute a configuração e consolidação da Reprodução Assistida (RA) no Brasil, identificando os agentes de socialização e os mecanismos de produção de sentido dos novos modos de geração da vida. A análise está centrada na ressignificação da ausência involuntária de filhos, atentando para a construção do desejo de filho biológico, passível de realização médico-tecnológica, que extrapola as relações heterossexuais. Partindo da hipótese que RA amplia ou implode o modelo de sexualidade heterossexual e reprodutiva, analisamos as implicações da ruptura do modelo de causalidade entre cópula e procriação nas relações de parentesco e gênero. No deslocamento da reprodução da alcova para o laboratório, a concepção deixa de ser um ato privado, de práticas erótico/amorosas, para se constituir em um evento público com a participação de terceiros (equipe, clínica, doador/a) e com mediações profissionais e econômicas. Dados iniciais levaram à necessidade de contextualizar esse campo na inter-relação entre ciência, tecnologia e capital, na qual o progresso científico é incorporado na figura do tecno-embrião, como empreendimento contemporâneo de mercantilização e consumo biotecnológico atrelado à fetichização do gene, que afirma valores tradicionais associados à família consangüínea. A composição desse campo se realizou a partir de várias fontes de informação: mídia escrita e eletrônica; congressos de especialistas em RA; páginas eletrônicas, folhetos publicitários de clínicas, medicamentos e equipamentos para RA; livros de divulgação; boletins de agremiações de especialistas e pareceres dos Conselhos Federal e Regional de Medicina. A divulgação de narrativas do desejo de filho biológico apresenta uma linguagem mercantilista, ofuscando a centralidade das mulheres na RA, que se tornaram agentes passivos de habilitação médico tecnológica. A ressignificação de modelos de sexualidade e reprodução é reapropriada pela tecno-medicina, que os submete às suas regras e à lógica do capitalismo contemporâneo, transformando “o que faz bater o coração mais rápido” em commodities. Refinadas formas de controle operam nesse campo mediante a reprodução seletiva, que descarta os aspectos indesejáveis da humanidade numa manipulação sem limites do saber e do poder tecnológico, diluindo as fronteiras entre clínicas de RA e laboratórios e a responsabilidade pelo futuro da humanidade.

ASSUNTO(S)

genero antropologia biotecnologia. reprodução humana inseminação artificial humana parentesco

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