Narciso ctônico: Os Sertões e a (r)evolução estética do teat(r)o oficina Uzyna Uzona uma escritura desconstrucionista. / Chthonic Narcissus: Os Sertões and the aesthetic (r)evolution of the teat(r)o Oficina Uzyna Uzona a deconstructive writing.

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

01/08/2011

RESUMO

No decorrer desta análise desconstrucionista da evolução artística do Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona e de sua obra contemporânea, exemplificada pelo espetáculo Os Sertões, o mitograma de Narciso é utilizado como tropo organizador para repensar a estética da companhia. Concorrentemente, a obra do Oficina serve como estímulo para identificar os aspectos restauradores do mito de Ovídio que não aparecem na conceitualização freudiana do narcisismo primário, mas que permeiam a teoria psicanalítica como rastro, apontando para uma questionável subjetividade-em-processo poética. Conexões são traçadas entre o mitograma original de Narciso com todos seus personagens suplementares, a teoria psicanalítica e desconstrucionista pós-freudiana, e a noção de Trans- Humanidade desenvolvida pelo Teat(r)o Oficina. Esta reescritura antropofágica e interdisciplinar revela um Narciso Ctônico, filho das águas, prole das divindades fluviais Liríope e Céfiso, cujo fascínio por sua imagem especular é, de fato, um anelo para unir-se com sua ancestralidade através do sacrifício transformador e criativo. Esta reapropriação do mitograma é utilizada subsequentemente como tropo para reescrever a historiografia do Oficina, cuja transformação de um grupo de teatro amador auto-reflexivo em uma entidade cultural fértil e fecunda, reflete a metamorfose do Narciso articulado por Freud no Narciso Ctônico (des)construído nesta escritura. Em seguida, o texto performático de Os Sertões é analisado a partir de quatro categorias estéticas sintagmáticas tempo/espaço/ação; corporeidade; musicalidade; e multimídia - para tecer um sintagma narcísicoctônico constituído pelo espaçamento policárpico, o corpo impróprio, o eco da (M)Other, e a reflexão geófita, que revela como Narciso rearticula e é rearticulado pela escritura cênica contemporânea do Uzyna Uzona. Finalmente, a questionável subjetividade-em-processo ctônica traçada pelo Oficina no decorrer da montagem de Os Sertões é relacionada ao sujeito subalterno silencioso e irrepresentável delineado por Gayatri Chakravorty Spivak. Em vez do tropo fonocêntrico da fala, que Spivak utiliza para prender o subalterno num abraço binário com o privilegiado Sujeito da Europa, Os Sertões apresenta-nos um alternativo; o estupro-como-grama uma noção conflituosa da inscrição e do hibridismo forçados que caracterizou a cena primal da colonização do Brasil, e que permeia o texto social até hoje como rastro. Essa ferida primal, essa (não) origem comum ao mitograma de Narciso e à fundação do Brasil é cooptada antropofagicamente no palco pelo Oficina, que demonstra que é a própria diferência do conhecimento incorporado, sagrado e sensual do subalterno que desde sempre espaça o texto (pós) colonial, (forçadamente) palimpséstico e híbrido que articula toda subjetividade no Brasil. O Teat(r)o Oficina sugere que, enquanto há muitos sujeitos brasileiros presos no discurso falogocêntrico alienador e imolador do neoimperialismo, ao imbuir sua escritura poética com a cadência ancestral das manifestações culturais subalternas africanas, indígenas e mestiças, o artista militante pós-colonial pode negociar e até momentaneamente transcender sua castração e transformarse,assim como Narciso Ctônico, em sujeito-em-processo subversivo em constante (r)evolução.

ASSUNTO(S)

os sertões deconstruction post-colonial studies subjectivity teatro teat(r)o oficina uzyna uzona chthonic narcissus teat(r)o oficina uzyna uzona narciso ctônico os sertões desconstrução estudos pós-coloniais subjetividade

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