Mulheres, soropositividade e escolhas reprodutivas

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

O perfil epidemiológico da aids no Brasil vem constatando um processo de feminização da epidemia, particularmente entre mulheres com relacionamento estável e em idade reprodutiva. O presente estudo teve como objetivos principais investigar os efeitos da condição de soropositividade sobre as escolhas reprodutivas de mulheres que vivem com HIV/aids e descrever crenças e percepções que estejam influenciando esse processo de escolha. Foi realizado um estudo descritivo, de delineamento qualitativo e de corte transversal, utilizando entrevista individual semi-estruturada como técnica de coleta de dados. Os relatos verbais foram transcritos e categorizados a partir da análise de seu conteúdo por pesquisadores independentes. Participaram 30 mulheres soropositivas, com idade entre 18 e 45 anos, vinte delas vivendo com parceiro. Na análise dos resultados, verificou-se que a maioria das participantes apresentou nível regular de conhecimento sobre formas de transmissão do HIV, bem como sobre transmissão vertical (TV). Quanto aos procedimentos profiláticos da TV, a maior parte delas apresentou um nível precário de conhecimento. Mais da metade afirmou que não desejava ter filhos, sendo as categorias de motivos mais freqüentes o receio do risco de transmissão do HIV para o filho e soropositividade como sinônimo de morte. Para a maior parte das entrevistadas, a reação das pessoas diante da intenção de mulheres soropositivas de ter filhos seria predominantemente negativa, considerada como um ato de irresponsabilidade ou inconseqüência. Expectativas negativas também foram relatadas quanto à reação do profissional da área médica diante desse desejo da mulher soropositiva, com predomínio da categoria repreensão/recriminação. Quando questionadas se conversavam com profissionais de saúde sobre aspectos referentes às escolhas reprodutivas, 90% delas afirmaram que não abordavam tais assuntos. Como sugestão para a melhoria dos serviços, as participantes referiram a necessidade de maior disponibilização de informação/orientação sobre como conviver com o HIV, a realização de atividades educativas, favorecer a presença de psicólogo e outros profissionais na equipe, melhorar a comunicação/interação entre médico e usuária e aumentar o tempo disponível para as consultas. As equipes de saúde devem ser melhor qualificadas para contemplar o atendimento e a orientação às mulheres HIV+ no que diz respeito às suas escolhas reprodutivas, respeitando e favorecendo sua autonomia. Os resultados desse estudo sinalizam a necessidade de que os serviços em HIV/aids atuem em consonância com os programas de atenção integral à saúde da mulher e os princípios do Sistema Único de Saúde, passando a contemplar a temática dos direitos reprodutivos, favorecendo o acolhimento e o respeito às decisões de mulheres que vivem com

ASSUNTO(S)

soropositividade escolhas reprodutivas psicologia mulheres

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