Mulheres marceneiras e autogestão na economia solidária : aspectos transformadores e obstáculos a serem transpostos na incubação em assentamento rural

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

A presente pesquisa buscou investigar o processo de incubação da marcenaria coletiva autogestionária, a Madeirate, do assentamento Pirituba II, localizado no município de Itapeva/SP. A Madeirarte iniciou-se a partir de um projeto de habitação social realizado no assentamento, em que foi implantada uma marcenaria para a construção dos componentes em madeira das habitações. A marcenaria foi assumida por um grupo de quatro mulheres, agricultoras, com mais de 45 anos, as quais iniciaram um empreendimento coletivo, integrando o projeto à possibilidade de trabalho e renda. Seguindo este contexto, os conceitos centrais desta pesquisa corresponderam às relações de gênero, na perspectiva do feminismo dialógico, e à economia solidária, na perspectiva da autogestão. O primeiro se deve à specificidade do trabalho de mulheres que desenvolvem a atividade de marcenaria, historicamente realizada por homens, em meio a uma sociedade na qual observamos desigualdades entre homens e mulheres e também entre mulheres. O segundo, deve-se ao contexto de um empreendimento pautado nas bases da economia solidária. Esta economia corresponde a uma busca de formas alternativas para a construção de um processo produtivo que contemple a solidariedade, capaz de relacionar o trabalho à possibilidade de melhores condições de vida, em meio à ideologia capitalista dominante. Dessa forma, esta investigação teve por objetivo refletir e dialogar sobre o processo de incubação da Madeirarte, com ênfase nas relações de gênero, identificando os elementos transformadores e os que se apresentam como obstáculos, a fim de buscar formas de melhorias na prática cotidiana do trabalho das marceneiras. Para tal, apoiou-se, enquanto base teórico-metodológica, no conceito da aprendizagem dialógica, o qual está pautado fundamentalmente nas elaborações de Habermas (1987), sobre a ação comunicativa e, no conceito de dialogicidade desenvolvido por Paulo Freire (1994, 2005), ao conceberem as pessoas como sujeitos constitutivos do diálogo, além de atuantes no contexto social e por isso capazes de transformá-lo. A metodologia utilizada foi a comunicativa crítica, pautada nas perspectivas transformadoras evidenciadas pela intersubjetividade e reflexão, bem como na importância do diálogo na elaboração do conhecimento, o que implica clareza na interpretação dos próprios sujeitos da pesquisa. Assim, a partir dos espaços de diálogo estabelecidos durante a pesquisa, seguindo a coleta de dados estruturada pela análise dos diários de campo, entrevistas, observação participante e grupos comunicativos, os resultados alcançados permitiram interpretar a realidade vivenciada pelas mulheres marceneiras em suas práticas cotidianas, relacionando as possibilidades do trabalho às transformações pessoais conquistadas, bem como no entorno do assentamento. Os resultados permitiram identificar os elementos transformadores presentes na Madeirarte, revelando inúmeras aprendizagens adquiridas e processos educativos construídos por mulheres no trabalho autogestionário. A pesquisa também identificou os elementos que se colocam como obstáculos nesta prática, indicando possibilidades para a sua superação. Com isso, buscamos contribuir com outros processos de incubação, bem como contribuir com práticas de mulheres envolvidas em empreendimentos solidários, mulheres que se tornaram protagonistas de suas vidas, mostrando que é preciso denunciar os processos de exclusão em que vivemos, mas também anunciar possibilidades de transformações históricas.

ASSUNTO(S)

práticas sociais e processos educativos educacao social practices and educational process educação mulheres marceneiras dialogical learning relação de gênero carpenters women aprendizagem dialógica community economy economia solidária gender relations

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