Muçunungas: enclaves de vegetação arenícola na Floresta Atlântica de Tabuleiro / Muçunungas: enclaves of arenicola vegetation in the Coastal Atlantic Forest

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

20/04/2010

RESUMO

As muçunungas constituem enclaves de vegetação savânica e florestal inseridos em áreas peculiares dos Tabuleiros Costeiros, onde processos pedogenéticos resultaram em arenização do solo. Este trabalho foi realizado em duas áreas de Muçununga nos municípios de Caravelas e Alcobaça, sul do estado da Bahia. Em Caravelas, a área de estudo, denominada Juerana, está localizada a aproximadamente 35 km do mar em linha reta. Nesta área, seis ambientes de muçununga e plantios de eucalipto foram separados: (i) Muçununga florestada; (ii) Borda da Muçununga florestada; (iii) Muçununga arborizada aberta (iv) Muçununga graminóide; (v) Plantio de eucalipto na borda da Muçununga graminóide e (vi) Plantio de eucalipto sobre solo típico dos Tabuleiros Costeiros. Já a área do município de Alcobaça, denominada Aparaju, encontra-se adjacente à Restinga, à aproximadamente 10 km do mar. Nesta área, foram separados cinco ambientes: (i) Muçununga gramíneo-lenhosa; (ii) Capão de Muçununga florestada; (iii) Borda da Muçununga florestada; (iv) Muçununga florestada; (v) Plantio de eucalipto sobre solo típico dos Tabuleiros Costeiros. A tese foi dividida em cinco capítulos. No Capítulo I foi testada a hipótese de que variações nas fitofisionomias de Muçununga estão relacionadas a diferentes propriedades do solo. Foram descritos os gradientes de solos de Juerana e Aparaju, caracterizando os solos e determinando as alterações em suas propriedades como resultado dos processos de podzolização e translocação de argila. Em cada pedoambiente foi descrito um perfil de solo e foram abertas duas trincheiras adicionais para coleta de amostras de solo de 20 em 20 cm até a profundidade de um metro. As amostras de solo foram submetidas a análises físicas e químicas. Foram realizados testes de correlação por postos de Spearman entre as propriedades dos solos e as camadas de profundidade em cada pedoambiente, e foi obtida a correlação entre estas propriedades para Espodossolos e Argissolos, em diferentes profundidades. De maneira geral, os solos dos gradientes são arenosos, distróficos, ácidos e álicos, com maior concentração de nutrientes à superfície. A matéria orgânica assume importante papel na capacidade de troca catiônica destes ambientes oligotróficos e arenosos das Muçunungas, e o acúmulo de carbono orgânico nos horizontes espódicos apresenta correlação com maiores teores de argila. As formações graminóides, gramíneo-lenhosas e a muçununga arborizada aberta ocorrem nos locais onde o processo de podzolização foi mais intenso, ao passo que as muçunungas florestadas ocorrem sobre Espodossolos ou Argissolos mais profundos, ou sobre solos transicionais, com teores de argila maiores em subsuperfície. No Capítulo II, foram testadas as seguintes hipóteses: (i) os térmitas alteram as propriedades físicas e químicas dos solos na construção de seus montículos, agindo seletivamente; e (ii) a ação seletiva dos térmitas é maior em solos mais pobres e arenosos. Em cada ambiente de Muçununga, foram coletadas amostras de solo superficial e da parede externa de montículos, com cinco repetições cada. As amostras foram submetidas a análises físicas e químicas de solo e foram testados modelos de regressão entre o acréscimo ou decréscimo das variáveis de solo nos montículos (delta) com relação à quantidade existente no solo superficial. Os teores de argila, silte, bases, fósforo, fósforo remanescente, carbono orgânico, bem como a capacidade de troca catiônica efetiva e total e a acidez potencial foram, de maneira geral, maiores nos montículos que nos solos superficiais dos ambientes estudados. Por outro lado, a saturação por alumínio foi significativamente menor nos montículos da maioria dos ambientes. Houve maior acréscimo do teor de argila, carbono orgânico, fósforo, soma de bases e alumínio trocável nos montículos em relação aos solos superficiais quando estes solos possuíram menores valores destas variáveis, demonstrando que existe maior ação seletiva dos térmitas em solos mais pobres e arenosos. Conclui-se que os cupins atuam melhorando as propriedades edáficas nos ambientes arenosos estudados, representando verdadeiros engenheiros de ecossistemas arenícolas. O Capítulo III teve como foco cinco ambientes de Muçununga florestada das duas áreas de estudo. Foram testadas as seguintes hipóteses: (i) as muçunungas florestadas adjacentes às restingas apresentam diversidade florística distinta daquelas circundada pela Floresta de Tabuleiro; (ii) a Muçununga florestada é floristicamente mais relacionada com a Floresta de Restinga do que com a Floresta Atlântica. Em cada ambiente, foram plotadas três parcelas de 20×20 m. Foi avaliada a estrutura da vegetação, a composição florística e aos índices de diversidade de Shannon-Weaver e de equabilidade de Pielou nos ambientes de Aparaju e Juerana, e foi realizada análise de similaridade florística de Sørensen entre estes ambientes e outros ecossistemas florestais. As muçunungas arbóreas adjacentes às restingas apresentam diversidade florística similar àquelas circundadas pela Floresta de Tabuleiro. A análise de similaridade entre as vegetações separou as áreas de Juerana e de Aparaju, que apresentaram 41% de similaridade, significando que existe uma heterogeneidade florística entre as manchas de vegetação estudadas. Ademais, apesar da flora da muçununga florestada possuir maior similaridade com áreas de Floresta de Restinga, o nível de similaridade é baixo, significando que as muçunungas arbóreas apresentam flora diferenciada. O Capítulo IV visa testar a hipótese de que as muçununga não florestadas são floristicamente mais relacionadas com as restingas que com os campos rupestres. Para testar esta hipótese, os três ambientes de Muçununga não florestada foram comparados floristicamente com outras formações não florestais de Muçununga e Restinga, e com áreas de Campo Rupestre. Para o estudo da estrutura da comunidade, foi utilizada a escala de valor de cobertura de Braun-Blanquet. As espécies identificadas foram classificadas quanto à forma de vida de Raunkiaer. As famílias com maior riqueza específica foram Melastomataceae, Asteraceae, Cyperaceae e Poaceae. Em todos os ambientes predomina a forma de vida caméfita. A análise de similaridade apresentou três grupos principais, demonstrando maior similaridade das muçunungas não florestadas com áreas de Restinga. Porém, esta similaridade é baixa, levando a concluir que apesar da proximidade das áreas de Muçununga com algumas áreas de Restinga e de características edáficas e ambientais similares, as muçununga não florestadas constituem um ecossistema diferenciado. Finalmente, no Capítulo V, foi realizada uma análise de correspondência canônica (CCA) entre as parcelas das Muçunungas florestadas e variáveis de solo. Foi coletada uma amostra de solo superficial (0-10 cm) por parcela. As amostras de solo foram submetidas a análises físicas e químicas de rotina. A CCA final foi rodada com as variáveis teores de cálcio (Ca2+), fósforo (P), alumínio trocável (Al3+) and organic carbon, e a capacidade de troca catiônica total. Com as mesmas variáveis, foi realizada uma nova CCA incluindo a distância dos ambientes estudados da linha da costa. O teste de permutação de Monte Carlo foi utilizado para verificar a significância das correlações espécie-ambiente. Apesar dos solos superficiais apresentarem em geral textura arenosa, pH fortemente ácido, baixa fertilidade e caráter álico, alguns grupos de espécies se correlacionaram à maior capacidade de troca catiônica total, maiores teores de carbono orgânico, Ca2+ e Al3+. Contudo, a CCA realizada incluindo a distância do mar explicou maior parte da variância total, contribuindo de forma mais significativa que as variáveis edáficas isoladamente para a distribuição e abundância de espécies arbóreas nas muçunungas florestadas.

ASSUNTO(S)

ciencia do solo classificação de solos espodização térmitas montículos pedobioturbação fitossociologia biodiversidade soil classification spodization termites mounds pedobioturbation phytosociological biodiversity

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