Mídia e consumo na produção de uma infância pós-moderna que vai á Escola

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Nesta tese entende-se que a infância é uma construção cultural, social e histórica, sujeita a mudanças. Inscrita em uma matriz de inteligibilidade que vê a contemporaneidade marcada por condições peculiares, imbricadas e implicadas naquilo que tem sido amplamente conhecido como cultura pós-moderna, considerase que grandes transformações têm alterado a forma de estarmos no mundo. Supõese que as condições culturais contemporâneas produzem infâncias distintas da infância moderna − ingênua, dócil, dependente dos adultos − e modificam as formas das crianças viverem esse período tido como próprio delas. Vivemos um estado da cultura, com implicações contundentes da mídia e do consumo, que tem se configurado de forma diferente daquele da modernidade e produzido sujeitos distintos dos sujeitos modernos. Esta tese tem como um de seus objetivos dar visibilidade às crianças pobres que freqüentam algumas escolas no município de Porto Alegre nesse início do século XXI. Procura-se realizar uma das leituras possíveis de como os sujeitos infantis das escolas estudadas vivem a infância sob as condições culturais pós-modernas, e apontar a produtividade dessa cultura no delineamento de um determinado tipo de infância, que se opta por chamar de “infância pós-moderna”. Busca-se mostrar como as crianças pobres das escolas estudadas são produzidas, formatadas, fabricadas pela mídia e pelo consumo, configurando novos modos de ser criança e de viver a infância. Pretende-se também colocar sob tensão as imagens convencionais e modernas de infância com que muitos professores persistem trabalhando na contemporaneidade. Para isso, optou-se tanto por lançar mão de estudos de autores que tratam de descrever, interpretar e problematizar a condição cultural pós-moderna, como daqueles que realizam análises culturais sobre as infâncias. Para o estudo das condições culturais pós-modernas, foram também coletados, e considerados para compor o corpus de análise, artefatos que integram a cultura circulante da mídia e do consumo como reportagens, comunicações publicitárias, imagens de crianças, diferentes produtos direcionados à infância, etc. Para dar visibilidade às conexões entre as crianças das escolas estudadas e a cultura pós-moderna foi realizado um inventário de artefatos e práticas presentes nas escolas, registrou-se em fotos e em anotações no diário de campo situações, conversas com crianças e professoras, bem como foram coletados desenhos e textos produzidos em sala de aula. Tanto os materiais coletados nas escolas, como os coletados fora delas, ajudaram a compor e a expor um panorama das condições culturais pós-modernas, e contribuíram para o objetivo de mostrar uma infância pós-moderna que vai à escola. Ao visibilizar e analisar as formas como as crianças pobres das escolas estudadas vivem a infância e constituem-se como alunos, foi possível perceber umaconsonância com as configurações culturais do mundo contemporâneo. Visibilidade, efemeridade, ambivalência, fugacidade, descartabilidade, individualismo, superficialidade, instabilidade, fazem parte de suas vidas. Observou-se, nas escolas estudadas, um modo de ser criança que busca infatigavelmente a fruição e o prazer e, nessa busca, borra fronteiras de classe, gênero e geração. Um modo de ser criança que procura incansavelmente inscrever-se na cultura globalmente reconhecida e fazer parte de uma comunidade de consumidores de artefatos em voga na mídia do momento; que produz seu corpo de forma espetacular para que ele esteja em harmonia com o mundo das visibilidades; que se caracteriza por constantes e ininterruptos movimentos e mutações. São crianças que vão se tornando o que são, vivendo sob a condição pós-moderna. Tais crianças provocam desestabilização das pedagogias, causam inquietações, minam o pensamento binário, porque não é mais possível classificá-las, cartografálas, enquadrá-las nos lugares tradicionalmente designados para infantis e para escolares. São polivalentes, podendo ser de diferentes e distintas formas ao mesmo tempo e, no momento seguinte, já possuírem outras formas, antes mesmo que seja possível conhecê-las e apreendê-las. Crianças pós-modernas são um desafio para a educação escolarizada porque não permitem o estabelecimento de uma ordem e a elaboração de planos a longo prazo.

ASSUNTO(S)

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