Michel Foucault, leitor de Pasolini: a propósito da ontologia do presente

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

30/03/2012

RESUMO

A consolidação irrecusável de um regime de expansão-consumo-tolerância retifica toda manifestação simbólica do presente em uma vida comum. Os sintomas da hodierna civilização do consumo nos corpos das subjetividades resumem a composição da ordem das relações individuais e coletivas sob os signos do desenvolvimento econômico, das garantias jurídicas, da erotomania generalizada e das liberalidades banais; que se imantaram, sequazes, em todos os níveis de experiências e de culturas no presente (a ponto de determinarem as complexas estruturas de poder e de dominação sobre as quais as mesmas puderam se imprimir). Em nossa tentativa de análise e de desprendimento frente à novíssima (ir)realidade da tecnologia, da informação e do consumo no neocapitalismo da pós-história evocaremos aos últimos Foucault e Pasolini; os quais definem, respectivamente, uma ontologia do presente e uma ontologia dos comportamentos de vida. Ambos são pensadores que proporcionam possíveis novas leituras éticas para o tempo presente, especialmente por meio da arte e da estetização da existência. No bojo de nossa análise, tentamos defender que o último Foucault concebe o redirecionamento de sua História da sexualidade com base na reformulação de sua concepção acerca do poder; a sonhar para isso com a atuação de um novo tipo de intelectual específico e localizado no presente: que arrogue para si possíveis práticas de uma ética atitudinal e (r)existencial (envidadamente de modos não normativos). Nosso propósito se dá a pretexto da hipótese de que Foucault tem senão como pressuposto, claramente como inspiração às postulações desse novo intelectual ético e específico no presente a leitura da obra e da vida de Pier Paolo Pasolini. Disso se segue que não pretendemos, para este trabalho, enveredar a nenhum tipo de diferenciação entre os conceitos de estética, de estetismo ou de estetização; nem em Pasolini nem em Foucault em razão de que não se trata de um trabalho nem de estética tampouco de filosofia da arte no âmbito dos dois autores. Não obstante a recorrência da teorização acerca da necessidade atitudinal e filosófica de uma estetização da existência, assim como da categorização a respeito da possibilidade de uma ética-estética para o presente, não corresponde à preocupação de nossa pesquisa versar sobre os temas precisos do cânone estético, tampouco contribuir com a discussão de aspectos propriamente relevantes ou conducentes a uma história da estética. Nosso trabalho apresenta-se muito mais no sentido de criticamente pensar a propósito de uma ética como atualização de possibilidades subjetivas: acerca da ação prática de uma filosofia possível do e no tempo presente. Um desforço a ser empreitado, sob esse aspecto, com supedâneo na consideração acerca do cometimento vital, da disposição corporal e da ação intelectual: que especificamente animam os dois autores a que pretendemos nos reportar. Trata-se, portanto, da discussão acerca de uma ética atitudinal para a filosofia do presente; na perspectiva daquilo que currente calamo se apresenta na vida e na obra de ambos. Uma empresa de vitalidade, e que originalmente ressalta nesse mesmo sentido a estilização artística de modos de vida filosoficamente enfrentados. Modos relacionados à corporalidade, à sensibilidade, à disposição trágico-agônica e à expressividade da existência como aspectos dessa ética possível: a delinear-se como uma ética da reinvenção de si no próprio tempo presente.

ASSUNTO(S)

ontologia do presente intelectual específico filosofia pasolini foucault specific intellectual ontology of the present time foucault pasolini

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