Metabolismo antioxidativo, biotransformação hepática e alterações histológicas de matrinxã (Brycon amazonicus, SPIX &AGASSIZ, 1829, CHARACIDAE) exposto ao fenol

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

A poluição é hoje um problema que afeta todos os ambientes inclusive o de água doce, e conseqüentemente, os organismos que vivem nele. Entre estes, os peixes formam um grupo de grande importância sob a perspectiva ecotoxicológica, pois é o maior dentre os vertebrados. O fenol é uma substância química exógena que está usualmente em concentrações acima da permitida por lei. Este xenobiótico é um composto orgânico e lipofílico e sua presença nos corpos de água se deve principalmente aos despejos de origem industrial, podendo causar ações tóxicas mesmo em baixas concentrações. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos do fenol, 1) no metabolismo antioxidante eritrocitário e hepático, 2) na biotransformação hepática (fase I e fase II), 3) na atividade da acetilcolinesterase cerebral e na recuperação de 1 e 2 semanas, e 4) nas brânquias, fígado e rim, do ponto de vista histopatológico, em matrinxã, Brycon amazonicus, um teleósteo de água doce originário da bacia Amazônica que vem sendo amplamente cultivado no Estado de São Paulo. Foram realizados 3 ensaios; primeiro, a determinação da CL50 de 96 horas. A partir deste dado, todos os outros experimentos foram feitos utilizando-se 10% da CL50/96h, ou seja, um teste subletal. O segundo ensaio foi a exposição ao fenol por 96 horas para determinar seu efeito nas brânquias, fígado e rim. Por fim, foi feita uma exposição por 96 horas seguida da recuperação por 1 e 2 semanas para se determinar os efeitos do fenol sobre o metabolismo antioxidante (Vit C, SOD, CAT, GPX, GSH, G6PDH) eritrocitário e hepático, e a possível recuperação; a biotransformação hepática (fase I, EROD e ECOD e II, UDPGT e GST), e os efeitos sobre a atividade da acetilcolinesterase cerebral. Os resultados obtidos mostraram que o fenol apresenta uma CL50 de 17,40 mg/L, e que o matrinxã é um organismo bem sensível ao fenol. Com este dado utilizamos uma concentração de fenol de 2 mg/L durante os experimentos de exposição subletal. Os dados observados na avaliação histológica mostraram que o fenol ocasionou alterações mais intensas nas brânquias que no fígado e no rim, causando principalmente fusão apical e total da lamela secundária, com congestão sanguínea e edema subepitelial. No fígado foi possível observar um aumento no diâmetro dos capilares sinusóides e estase sanguínea, e no rim o fenol causou um aumento do espaço entre o glomérulo e a cápsula renal. No experimento de exposição ao fenol em concentração subletal posterior recuperação, verificamos um aumento nos valores de hematócrito no grupo exposto e no grupo recuperado por 1 semana. Estes dados, associados às lesões branquiais, sugerem que o matrinxã sofreu uma diminuição na absorção de oxigênio. O metabolismo antioxidante eritrocitário não sugere estresse oxidativo durante a exposição ao fenol, aumentando somente a atividade da G6PDH, durante a exposição, e queda da atividade da CAT. Também não se observou estresse oxidativo durante a recuperação. Os resultados da análise do metabolismo antioxidante no fígado mostraram que não ocorreu estresse oxidativo após a exposição ao fenol. Todavia, após a recuperação, o aumento da atividade da GPx na primeira semana de recuperação e a redução na segunda semana sugerem estresse oxidativo . Observouse também uma redução na atividade da G6PDH após a segunda semana de recuperação. Estes dados corroboram os de biotransformação hepática que mostraram um aumento da atividade de EROD e ECOD na recuperação. A ocorrência de estresse oxidativo somente na recuperação pode ter sido ocasionada pelo aumento da atividade das enzimas da biotransformação de fase I, onde pode ocorre produção de ERO. Além do mais, o fenol parece exercer um efeito inibidor de algumas enzimas após a exposição, levando à diminuição de UDPGT e GST, as quais aumentaram sua atividade na ausência de fenol. O fenol também mostrou ser um inibidor da atividade da UDPGT in vitro, o que não ocorreu para a GST. Pode ter ocorrido também a inibição de EROD e ECOD durante a exposição. No cérebro a atividade da AChE também apresentou inibição após a exposição ao fenol, retornando aos valores normais após a recuperação. Entretanto, a concentração de vitamina C aumentou durante a exposição e a recuperação no cérebro, enquanto que no fígado observou-se redução. Estes dados mostram o grau de toxicidade do fenol para o matrinxã, mesmo em dose subletal, e a necessidade de redução de seu lançamento nos corpos de água para proteção desta espécie.

ASSUNTO(S)

bioquímica genetica estresse oxidativo peixe toxicologia

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