Mercados e reprodução social : um estudo comparativo entre agricultores ecologistas e não ecologistas de Ipê-RS

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

A crescente mercantilização da produção agrícola e do mundo rural, provocada pela modernização da agricultura, aliada ao processo de abertura econômica e de desregulamentação dos mercados que ocorre nos países da América Latina a partir dos anos 90, vem submetendo as formas familiares de produção a uma situação de crise econômica que promove, entre outros, a redução das possibilidades de reprodução das famílias de agricultores. Nesse contexto, a continuidade das formas familiares de produção no meio rural está condicionada a mudanças nas estratégias de alocação do trabalho e dos recursos no interior das unidades de produção e das famílias. Entre as mudanças citamos: (a) a desmercantilização da produção agrícola (afastamento sistemático, estratégico e gradual dos mercados de insumos); (b) a vinculação estrategicamente organizada aos mercados de produtos; e (c) a diversificação das fontes de renda e das formas de inserção profissional das famílias. A partir desses referenciais sobre a crise de reprodução social da agricultura familiar e sobre as alternativas necessárias à continuidade dessa forma social, este trabalho tem como objetivo central analisar se a proposta agroecológica no município de Ipê/RS apresentase como uma alternativa concreta, ampliando/modificando/viabilizando as estratégias de reprodução social dos agricultores familiares ecologistas. A fim de destacar as transformações geradas nas estratégias de reprodução a partir do momento em que as famílias passam a praticar a agricultura ecológica, optamos pela utilização de uma comparação entre famílias de agricultores ecologistas e famílias de agricultores não ecologistas. Através dessa comparação foi possível analisar também a utilização das estratégias de adaptação por famílias de agricultores não inseridas na proposta agroecológica. Foi possível concluir que a mercantilização das estratégias produtivas e reprodutivas em Ipê não ocorreu de forma homogênea entre as unidades familiares, mas, ao contrário, gerou uma diversidade de formas de relacionamento entre a agricultura e os mercados agrícolas. Neste processo, tanto no âmbito dos ecologistas, como no âmbito dos não ecologistas, certas esferas da produção e da vida social são mantidas fora dos circuitos mercantis, permanecendo traços de camponês, ou de colono, no agricultor familiar, seja na esfera da produção, seja na da reprodução social. No entanto, apesar da existência de traços comuns entre ecologistas e não ecologistas, e da manutenção entre as famílias de ambos os grupos de um certo distanciamento dos mercado, é possível afirmar que a inserção na rede vem promovendo entre os ecologistas alterações nos processos de inserção e dependência dos mercados. Neste novo processo de inserção mercantil destacam-se as novas formas de vinculação com os mercados de produtos e com o mercado de trabalho, através da recorrência à pluriatividade. Apesar dos gastos com a produção (consumo intermediário) e das necessidades de aquisição de custeio de safras serem menores entre os ecologistas, não foi possível identificar um processo de desmercantilização da esfera da produção, conforme prevíamos, o que pode ser atestado pelo maior imobilização de capital nas atividades produtivas e pela maior inserção dos ecologistas no mercado financeiro, principalmente para a realização de investimentos. Se não podemos afirmar a categoria desmercantilização, a relação entre os indicadores mostra a geração de processos de menor dependência ou maior autonomia destas famílias em relação aos mercados, o que, de acordo com o referencial teórico utilizado, amplia as possibilidades de reprodução social, pelo menos a curto prazo, das famílias ecologistas estudadas.

ASSUNTO(S)

agricultura familiar agroecology ipê (rs) agricultura ecológica family agriculture desenvolvimento rural commoditisation agroecologia produção agrícola

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