Memórias do casarão: lições de uma ocupação popular urbana derubada por políticas sociais públicas

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Esta dissertação trata da memória coletiva de oito pessoas que, entre os anos de 1996 e 2003, participaram da ocupação, para fins de moradia e trabalho, de uma área urbana chamada de Casarão, localizada no centro histórico da cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul, Região Sul do Brasil. Identifica-se no desfecho dessa ocupação, com remoção de seus antigos moradores e demolição dos prédios ocupados, remanescentes de um velho gasômetro do século XIX, o reflexo de uma grave contradição capaz de transformar o testemunho dessas pessoas em tema de interesse público e acadêmico. Afinal, o mesmo poder público que soube projetar a cidade de Porto Alegre mundialmente com instituições políticas e sociais inovadoras, como o Orçamento Participativo e o Fórum Social Mundial, também soube desprezar o apoio dado por entidades participantes dessas mesmas instituições aos moradores do Casarão, recorrendo a promessas não aprazadas de modo oficial, à manipulação de dados em ações judiciais e à força militar para removê-los. Foram entrevistados adultos de sete das dezoito famílias removidas que, após dois anos, ainda seguiam abrigados em casas de passagem da Prefeitura Municipal à espera da casa própria. Cada um falou de sua trajetória de vida quanto a moradia e trabalho, de fatos que o marcaram na história do Casarão e de suas esperanças no futuro. O problema foi tratado sob os enfoques metodológicos da pesquisa qualitativa em Augusto Nibaldo Silva Triviños e da pesquisa reflexiva segundo Alberto Melucci. A análise se baseou em autores tais como José de Souza Martins, Maria Conceição D’Incao, Gérard Roy, Christian Geffray e Maurice Halbwachs. A primeira conclusão aponta para trajetórias urbanas sujeitas a processos cíclicos de exclusão e inclusão social com rupturas de laços familiares, desqualificação do acesso ao trabalho e degradação das condições socioeconômicas. A segunda conclusão acusa efeitos degradantes de uma política social pública concebida à revelia das aspirações e das experiências da população atingida. A última conclusão revela o desejo dos antigos moradores do Casarão por estabilidade, expresso através de cuidados e benfeitorias sobre o local, assim como, para quem responde por uma prole infantil numerosa, a impotência decorrente da falta de perspectivas no futuro a refletir-se numa imagem saudosista do passado.

ASSUNTO(S)

política social memoria colectiva ocupaciones urbanas desigualdade social políticas sociales ocupação urbana

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