Memoria e narrativa : da dramatica constituição do sujeito social

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2002

RESUMO

O presente trabalho tenta articular memória e narrativa, levando em consideração estudos que focalizam os aspectos sociais, históricos e discursivos da memória humana (Halbwachs, Bartlett, Vigotski), bem como elaborações sobre a relevância da narrativa como instância privilegiada na constituição da memória e da subjetividade. Desenvolvemos um estudo enfocando lembranças de um trabalho pedagógico, no qual a autora esteve envolvida como professora, em 1995, no antigo curso de magistério, em uma escola da rede pública, em Campinas, São Paulo, através de entrevistas (como produções intersubjetivas, acontecimentos discursivos) realizadas com ex-alunas. As narrativas e memórias que emergiram na situação de pesquisa são analisadas como uma (re)construção dinâmica, como parte integrante da vida e da história dessas pessoas, como um processo de produção de sentidos articulado às práticas sociais e históricas mais amplas das quais os sujeitos participam. Algumas questões emergiram no processo de análise: Como as narrativas vão constituindo as memórias dos sujeitos? Como os lugares ocupados pelos sujeitos marcam o que lembram e esquecem? Como estes vão se posicionando e se constituindo no processo de narração? De que forma os sentidos produzidos nessas relações vão participando do processo de narrar e recordar (ou esquecer). Se a memória, como função psicológica/social, transforma-se ao longo da vida, em decorrência das mudanças no sistema funcional, relacionadas ao uso de signos ­produtos históricos e culturais - e à participação em práticas sociais, como memorizam diferentes pessoas em momentos históricos e contextos culturais distintos? Como se constituem a nossa memória e a nossa narrativa hoje? Considerando as mudanças históricas na relação entre memória, esquecimento e palavra, desde a Grécia arcaica, sobretudo em função do advento da Polís e do impacto da filosofia platônica, problematizamos a atual concepção de memória e esquecimento, relacionada a uma concepção racionalista de sujeito, herança do processo histórico e social que vem se configurando desde a Antigüidade. As análises de Elias sobre o processo de encapsulamento do indivíduo e de Benjamim sobre as condições de nossa modernidade, entre elas a perda da experiência e o declínio da arte de narrar, levam-nos ainda a indagar sobre as (im)possibilidades da memória e da narração. Nossas elaborações, articulando os pressupostos teóricos deste trabalho às contribuições de diferentes autores como Bakhtin, Wallon, Foucault e Ricoeur e de estudos na vertente francesa de análise do discurso, realçam: o entretecimento das histórias e memórias contadas pelos indivíduos no âmago do grupo social, na dinâmica dialética de participação/exclusão das práticas sociais/escolares; a tensão eu/outro que perpassa as narrativas, em movimentos de identificaçã%posição, de apropriação de vozes conflitantes e de. não-coincidência do sujeito consigo mesmo; a ocupação de diferentes posições, a configuração de imagens e pontos de vista muitas vezes discordantes. Movimentos que se aguçam no tempo desagregado da modernidade e constituem de forma mais (in)tensa o drama (Vigotski) do sujeito social

ASSUNTO(S)

narrativa (retorica) professores - formação memoria

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