Mecanismos da homofilia : a invisibilização dos desiguais no associativismo urbano

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2012

RESUMO

Esta dissertação visa dar prosseguimento às investigações realizadas com duas associações de moradores de Porto Alegre ¿ uma localizada numa vila popular e outra situada num bairro de classe média. Essas pesquisas evidenciaram que as distâncias estruturais e relacionais entre agentes que ocupam posições distintas em contextos de desigualdades extremas se reproduzem também na conformação das redes associativas. Frente a esses resultados, coloca-se a finalidade central desta pesquisa: identificar e analisar processos sociais que permitem explicar a associação causal entre distância social estrutural e distância social relacional ¿ ou seja, a homofilia ¿ observada no associativismo urbano de Porto Alegre. Devido à impossibilidade de abordar adequadamente os diversos mecanismos que concorrem para a (re)produção da homofilia, optou-se por focalizar um mecanismo que, hipoteticamente, parece desempenhar um papel central em um contexto de profunda desigualdade como o brasileiro: o mecanismo de invisibilização. Argumenta-se que a invisibilização de indivíduos e grupos em posições inferiorizadas por parte daqueles ocupantes de posições superiores na hierarquia social constitui um mecanismo importante na constituição das fronteiras sociais e simbólicas em espaços sociais marcados por desigualdades extremas. A hipótese aventada é de que a invisibilização tende a bloquear os contatos entre indivíduos desigualmente situados no espaço social ao estabelecer fronteiras sociais e simbólicas entre eles, contribuindo, assim, na reprodução das distâncias estruturais e relacionais no associativismo. Para fins de análise, tomam-se como objetos de investigação indivíduos engajados em duas associações de moradores de classe média de Porto Alegre. São investigadas as relações e os deslocamentos desses indivíduos como um recurso metodológico para analisar os padrões homofílicos observados na atuação das organizações às quais eles pertencem. A opção por indivíduos como unidade de análise se fundamenta no argumento de que as relações entre agentes sociais são conformadas pelos grupos aos quais eles pertencem conjuntamente, enquanto que os laços entre grupos são formados pelos integrantes que eles compartilham. Para compreender como opera a invisibilização nas redes de relações, empregou-se a metodologia de análise de redes sociais. As técnicas de produção de informações reticulares conhecidas como gerador de nomes e name interpreters possibilitaram construir a trama de relações dos egos entrevistados e explorar os atributos socioeconômicos dos seus alters, respectivamente. Para dar conta da invisibilização nos deslocamentos e destinos dos agentes pesquisados foram realizadas entrevistas semiestruturadas. Foi solicitado a eles que desenhassem em um mapa até três percursos dentro do bairro e três trajetos dentro da cidade, bem como fazer comentários sobre tais deslocamentos. A análise das redes relacionais e dos deslocamentos dos oito casos investigados permite sustentar empiricamente a presença e a operação do mecanismo de invisibilização. De um lado, ela se expressa na tendência de que indivíduos em posições subalternizadas estejam ausentes dos espaços e das relações que estruturam o cotidiano dos indivíduos pesquisados. Tal ausência diminui (e, no limite, impede) a possibilidade de que relações significativas e duradouras se estabeleçam entre os desiguais. Por outro, mesmo quando aquela tendência é rompida e os entrevistados interagem com indivíduos e organizações em posições inferiorizadas, observa-se que tal interação tende a não produzir vínculos relevantes.

ASSUNTO(S)

homofilia urban associations social distance associativismo comunitário invisibility desigualdade social homophily invisibilidade social

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