Manifestações clínicas, laboratoriais e a função dos fagócitos em crianças com leishmaniose visceral tratadas com glucantime

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

A leishmaniose visceral é caracterizada pela visceralização da leishmânia pelo sistema fagocítico-mononuclear. A expressão clínica da doença depende de fatores como a espécie e virulência da cepa e o tipo de resposta do sistema imunitário, características individuais, genética e o meio ambiente em que o indivíduo está inserido. O glucantime continua sendo a droga de primeira escolha no tratamento desta doença e a resposta clínica ao tratamento depende da inter-relação de vários fatores. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do glucantime sobre a função dos monócitos e neutrófilos de crianças com leishmaniose visceral. Foram avaliados os parâmetros clínico-evolutivos e a função dos fagócitos de 23 crianças com leishmaniose visceral e 18 crianças controles sem a doença. A capacidade fagocitária dos monócitos e neutrófilos e a capacidade microbicida foram avaliadas antes, após 48 h e ao final do tratamento com glucantime. O teste de fagocitose foi realizado utilizando-se Saccharomyces cerevisiae, pelos receptores que reconhecem padrões moleculares de patógenos e pelos receptores que reconhecem os componentes do complemento e porção Fc da IgG. A produção de ânions superóxido foi avaliada pelo teste do nitroblue tetrazolium. A desnutrição foi mais freqüente entre as crianças com leishmaniose visceral, e o escore z da estatura para idade (E/I) mostrou relação direta com a capacidade microbicida. Infecção bacteriana foi observada em 35% das crianças, sendo o pulmão o local mais freqüentemente acometido. Hepatite ocorreu em 74% dos casos e insuficiência hepática foi observada em uma criança. Provavelmente houve hepatotoxidade em 13% dos casos. O tamanho do baço mostrou relação inversa com a concentração de hemoglobina e com o índice fagocitário dos monócitos. Observou-se melhora da febre em 61% das crianças no sétimo dia de tratamento, redução do tamanho do baço e do fígado das crianças em 55% e 54%, respectivamente, na segunda semana, melhora da pancitopenia com aumento em 20% da concentração de hemoglobina, em 46% no número de glóbulos brancos e em 67% no número das plaquetas e tendência à diminuição das enzimas hepáticas na segunda semana de tratamento. Houve dois óbitos devidos a insuficiência respiratória e hepática. O índice fagocitário de neutrófilos e monócitos estava aumentado nas crianças com leishmaniose visceral antes do tratamento, devido ao aumento da média de levedura ingeridas por fagócito, o que sugere um aumento na expressão de receptores para complemento e porção Fc das IgG nestes fagócitos, induzidas pela infecção parasitária. Entretanto, observamos uma diminuição na capacidade microbicida dos fagócitos nas crianças com leishmaniose visceral antes do tratamento específico. O tratamento com o glucantime contribuiu para a melhora dos parâmetros clínicos e laboratoriais e aumentou a capacidade microbicida dos fagócitos. Entretanto, esta droga modulou negativamente a capacidade fagocitária. Mostramos a ação desta droga como moduladora da resposta do sistema de fagócitos. A aumentada capacidade fagocitária associada com a diminuída produção de moléculas microbicidas pode fazer parte dos mecanismos de escape do parasita da resposta imune do hospedeiro e o tratamento com o antimonial possivelmente está atuando como um mecanismo de contra-escape, aumentando a competência microbicida destas células.

ASSUNTO(S)

leishimaniose visceral tratamento com glucantime medicina

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