LINGUISTIC OPERATIONS IN THE PORTUGUESE XERENTE Akwe / Empréstimos lingüísticos do português em Xerente Akwé

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Muitas línguas faladas por povos minoritários em situação de contato com povos majoritários encontram-se em situação de desvitalização. Além disso, várias outras línguas foram extintas, juntamente com uma complexidade cultural que envolve toda uma forma peculiar de refletir sobre a realidade e nela estar inserido. As razões para que isso ocorra são diversas e, para cada caso, atuam de diferentes formas. Identificar estas razões pode ajudar a clarear a situação de uma língua e conseqüentemente dar subsídios para projetos de (re)vitalização, uma vez que o entendimento da situação sociolingüística pode revelar o que há por trás das várias facetas originadas das relações, predominantemente assimétricas, de poder político, econômico e cultural desiguais entre os povos envolvidos. Neste sentido, as variações e mudanças nas línguas estão diretamente relacionadas com as mudanças ocorridas no meio sociocultural e no ecossistema em que estão inseridos os povos que as falam. Assim, tanto os fatores lingüísticos quanto os extra-lingüísticos atuam sobre estas mudanças. De acordo com vários autores (Albó, 1988; Braggio, 1997; Godenzzi, 2000; Nettle &Romaine, 2000; Romaine, 1995 entre outros), os empréstimos feitos por línguas minoritárias em situação de contato com línguas dominantes têm sido vistos como sinais da desvitalização do léxico destas línguas, dada a velocidade com que são incorporados ao léxico. Desta forma, não há tempo para que a coletividade adote os termos criados dentro da própria língua ou filtre os novos termos, adaptando-os à estrutura da língua incorporadora. Assim como a língua, toda a estrutura sociocultural, política e econômica desses povos são ameaçadas. O povo xerente encontra-se entre estas minorias que têm sua língua nativa ameaçada. Em vista disso, pretendemos dar nossa contribuição à Lingüística, aos estudos sobre línguas indígenas e ao povo xerente akwe, trazendo à luz a situação sociolingüística em que se encontram, através do estudo dos empréstimos lingüísticos do Português para a língua xerente. Atualmente, somam por volta de 3.100 indivíduos e sua língua está filiada à família Jê, tronco Macro Jê (RODRIGUES, 1986). Sua área indígena encontra-se no estado do Tocantins, a aproximadamente 80km da capital Palmas. Ali estão distribuídos em 56 aldeias, além de parte da população (aproximadamente 10%) que vive no centro urbano de Tocantínia, a cidade mais próxima. Sendo assim, os principais objetivos desta dissertação são: a) descrever e analisar os empréstimos do Português para o Xerente Akwe, em seus aspectos lingüísticos e extra-lingüísticos; b) contribuir para a área da sociolingüística com o estudo dos empréstimos em situação de contato lingüístico e sociocultural e c) refletir com o próprio povo Xerente acerca do fenômeno estudado e, assim, tentar contribuir para a educação escolar indígena e para a vitalização da língua nos aspectos em que estão sendo mais afetadas, dado que há fatores extra-lingüísticos concorrendo para uma possível desvitalização (Braggio, 2008). Para tanto, utilizamos como método a aplicação de listas de palavras representadas visualmente e divididas em campos semânticos (tais como transportes, ferramentas e utensílios, escola, alimentos etc., que representem os novos elementos que vão sendo introduzidos na cultura indígena), com a finalidade de verificar até que ponto estes empréstimos se dão de forma regular entre línguas em contato, como uma mudança própria de cada língua, como ferramenta de ampliação lexical ou se dão de forma desordenada, contribuindo para o deslocamento da língua xerente, ou ambas. Quanto aos aspectos lingüísticos, identificamos quatro tipos de empréstimos: i) por criação; ii) loanblends; iii) com adaptações fonético/fonológicas e iv) diretos, cada qual com diferentes graus de complexidade estrutural. Estes últimos são usados exatamente como o são no Português, representando assim uma força dominante do Português para parte dos falantes para adaptá-los à língua indígena. Este tipo de empréstimo é considerado como um indício real de obsolescência de língua, uma vez que está relacionado à velocidade com que os empréstimos estão entrando. Além do mais, não se pode desvincular os empréstimos das atitudes por parte dos próprios indígenas e das políticas lingüísticas que precisam ser adotadas para refletir sobre a situação. Os resultados da análise dos aspectos extralingüísticos mostram que os empréstimos aportuguesados, ou seja, mais próximos ou idênticos às formas portuguesas, são mais comuns entre as crianças e os Xerente +jovens, que vivem na cidade e que têm maior grau de escolaridade e que as formas criadas com elementos da língua nativa são de uso mais amplo dos indígenas +velhos, que vivem na aldeia e com pouca ou nenhuma escolaridade. De uma forma geral, a realidade social xerente, de migração, dispersão interna e escolarização através do Português, como afirma Braggio (idem) podem ser consideradas como uma das pontencializadoras da intrusão da língua xerente akwe pelo Português. Acreditamos que este trabalho preenche uma lacuna ao vislumbrar um recorte da realidade sociolingüística do povo xerente e dá subsídios para que futuros estudos sejam realizados

ASSUNTO(S)

língua xerente akwe languages in contact xerente akwe linguistica sociolingüística sociolinguistics linguistic borrowings línguas em contato empréstimos lingüísticos.

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