Life trajectories of interns of the penitentiary system of Espírito Santo state (Brazil): a study of the network of meanings of the process of incarceration by means of discursive practices. / Trajetórias de vida de internos do sistema penitenciário capixaba: um estudo da rede de significações do processo de encarceramento a partir das práticas discursiva

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

O estudo da alta incidência de criminalidade violenta entre jovens e do aumento da taxa de encarceramento na atualidade produz reflexões acerca de aspectos da vida social relativos aos processos de exclusão e de reprodução de uma cultura pautada no individualismo exacerbado. Tais reflexões, aliadas às questões penitenciárias históricas e àquelas mais recentes, deram origem ao presente trabalho. Seu objetivo foi conhecer as trajetórias de vida de internos do sistema carcerário capixaba e as perspectivas de futuro desenvolvidas por eles a partir do encarceramento. Foram utilizadas como ferramentas intelectuais as abordagens teórico-metodológicas da rede de significações (RedSig) e das práticas discursivas. Tal suporte auxiliou a análise de conteúdo do corpus da pesquisa e a interpretação dos resultados, possibilitando a compreensão de alguns possíveis circunscritores dos modos de vida encarcerada, assim como dos sentidos da prisão no mundo em que vivemos. A coleta de dados envolveu quinze internos do Instituto de Readaptação Social (IRS). Foi realizada através de entrevistas orientadas por blocos investigativos dos quais emergem características do processo de encarceramento, quais sejam: condição familiar de origem, situação de escolaridade e profissionalização, condição de pré-delinqüência, família constituída, histórias prisionais, momento atual, e perspectivas futuras. Na tentativa de apreender os sentidos produzidos pelos internos para a prisão, seis dos internos já entrevistados na primeira fase foram entrevistados novamente após a passagem de um ano. Tais entrevistas consideraram as práticas discursivas que compuseram os primeiros blocos investigativos, aos quais foram adicionados dois novos blocos: percepção da trajetória de vida e construção de modos de vida encarcerada. A interpretação dos resultados obtidos na primeira fase da pesquisa considerou a linha narrativa presente nos blocos de investigação. A interpretação dos resultados da segunda fase se deu a partir da concentração de signos de modos de vida dos participantes em cada entrevista. Embora esteja apontada a singularidade dos trajetos de vida de cada interno entrevistado, pontos recorrentes podem ser sinalizados para os entrevistados mais jovens (com idade inferior a 30 anos): origens urbanas e pobres, escolaridades baixas, passagens pela polícia anterior à maioridade, uso de drogas na infância, sem profissionalização, experiências de relacionamento conjugal com presença prematura de filhos, histórias de torturas e maus-tratos em presídios por onde passaram antes da chegada ao IRS. As perspectivas de vida futura apresentam-se de forma inconsistente e, algumas vezes, sem possibilidades de concretização. Os entrevistados mais velhos (com idade superior a 38 anos) apresentavam alguns pontos recorrentes diferenciados em relação aos mais jovens: origens rurais, menos passagens pela polícia na menoridade, e inexistência de uso de drogas na infância. Em relação às perspectivas futuras o que aparece é o desejo de retorno à convivência familiar e ao trabalho desenvolvido antes do encarceramento. Por fim, o encarceramento apreendido nas práticas discursivas aparece representado pelo sofrimento, pelo arrependimento, pelo pagamento de dívida e pelo sentimento de desrespeito.

ASSUNTO(S)

prisons criminalidade presídios, rede de significações constraints exclusão social network of meanings social exclusion prisoners criminality discursive practices circunscritores presos psicologia social práticas discursivas

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