Juventudes governadas : dispositivos de segurança e participação no Guajuviras (Canoas-RS) e em Grigny Centre (França)

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

Esta tese analisa determinadas formas de governamento da juventude em políticas de segurança pública, entendendo-as como respostas do Estado à expansão e à generalização de um sentimento de insegurança e medo na sociedade contemporânea. Para isso, discuto práticas de governamentalidade que atingem as periferias urbanas e, de modo particular, os/as jovens que lá habitam, considerando-as como resultados de uma alteração e uma intensificação dos modos como o Estado exerce o governo das condutas. A abordagem teórico-metodológica situa-se na interface dos estudos de gênero, dos estudos culturais e da antropologia política, principalmente as perspectivas que propõem uma aproximação crítica com a teorização foucaultiana; o trabalho posiciona-se no campo de uma etnografia pós-moderna, a partir de uma combinação de metodologias e de modos de escrita. Para efetivar minha análise elegi dois lócus de pesquisa. Um deles foi o bairro Guajuviras, em Canoas, cidade da região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Brasil. O bairro recebe ações do Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania (Pronasci), ali implementadas com o nome de Território de Paz. O segundo lócus foi a cidade de Grigny Centre, na região metropolitana de Paris, na França, considerada uma das cidades mais “explosivas” entre as periferias parisienses; analisei um conjunto de ações de prevenção e repressão à criminalidade situadas nas politiques de la ville. Constituíram fontes de pesquisa: (i) documentos oficiais, de órgãos de imprensa e panfletos de divulgação; (ii) narrativas literárias, musicais e fílmicas; (iii) anotações das recordações de campo, transcrições de grupos de discussão e entrevistas; (iv) imagens fotográficas. Os materiais foram analisados na perspectiva da análise cultural, ancorada na teorização foucaultiana. Foi possível evidenciar que as políticas de segurança tornaram-se elementos centrais da agenda política dos dois países, com propostas de soluções dirigidas aos jovens homens, principalmente de grupos considerados em situação de risco e vulnerabilidade social. O Território de Paz, no Brasil, se caracteriza como uma tecnologia de governamento. Organiza atividades de modo a (tentar) regular a diversidade da vida juvenil. As ações do Estado francês operam de modo a criminalizar e a culpabilizar a juventude pobre, árabe e negra por situações consideradas anteriormente como simples incivilidades. Com relação às elaborações dos/das jovens e de suas formações identitárias, fortemente atravessadas por marcadores de classe raça e gênero no Brasil, e de gênero e raça/etnia na França, foi possível trazer à tona uma força vital que pouco tem sido valorizada como potência de mudança: trata-se da capacidade dos/das jovens de elaborarem teorias sobre suas próprias condições e trajetórias. Com efeito, os/as jovens reconhecem a disjunção entre o que seria importante nas suas vidas e o que as ações de Estado lhes propõem ou oferecem.

ASSUNTO(S)

jeunesse segurança pública violence juventude violência politiques de sécurité publique identidade gouvernementalité gênero identité genre et race / ethnie raça etnia youth violence public security policies governamentality identity gender and race/ethnicity

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