Juventude e paixão pelo real : problematização sobre experiência e transmissão no laço social atual
AUTOR(ES)
Gurski, Roselene Ricachenevsky
DATA DE PUBLICAÇÃO
2009
RESUMO
Esta tese trata de modos “violentos” de representação no social vividos por jovens de classe média e alta. A partir de um grupo de notícias de jornais e revistas em circulação no Brasil (1997-2007), que associavam tais jovens a episódios de violência, bem como de produções cinematográficas, cujos temas abordavam essas tensões, formulamos as seguintes interrogações: quais seriam os vetores de episódios violentos protagonizados por jovens que não padecem de privações sociais extremas? O que a brutalidade dos atos praticados poderia retratar acerca de suas referências simbólicas? Que condições sociais do tempo atual contribuem para a emergência de condutas como essas? Por que o privilégio da violência quando de suas tentativas de inscrição? Para problematizar e pensar tais questões, valemo-nos das ferramentas conceituais da Psicanálise e dos escritos de Walter Benjamin, bem como de teóricos que problematizam as condições do laço social contemporâneo, entre eles Hannah Arendt, Slavoj Zizek, Maria Rita Kehl e Contardo Calligaris. Destacamos que escolhemos a inspiração do ensaio como forma de escrita e de produção de conhecimentos. Para o trabalho de análise, buscamos a perspectiva do flâneur de Baudelaire: aquele que se deixa interpelar pelos pequenos detalhes do cotidiano e que vê nas insignificâncias diárias a matéria maior dos modos de subjetivação. Apostando na fragmentação e no “resto” dos fatos e acontecimentos, como possibilidade de colher verdades produzidas num tempo e espaço determinados, cunhamos o termo “ensaio-flânerie”. O estudo permitiu pensar que a violência presente nos atos desses jovens revela estreita relação entre o esvaziamento da dimensão da experiência e de sua transmissão – conforme Walter Benjamin – e aquilo que Zizek conceitualiza como paixão pelo real. É como se esses jovens devolvessem, através de seus atos, o mal-estar que sentem ao se depararem com o vazio de experiência, tanto na esfera social quanto nas transmissões familiares. A demanda por confirmar a inscrição de si no social – típica da operação psíquica da adolescência –, somada ao empobrecimento das condições de construção da experiência e ao esvaziamento do espaço público como espaço legítimo de representação, tende a incrementar a dimensão da violência e, portanto, do que estamos chamando de paixão pelo real. Tudo indica que as condições de nosso tempo social – dadas pela ciência, pela mídia e pelas novas tecnologias – não parecem oferecer aos jovens recursos passíveis de ajudar na elaboração do encontro com o real. Pelo contrário, ao produzirem o anonimato do sujeito, de algum modo, incrementam a dificuldade do reconhecimento simbólico, incitando à impessoalidade e ao anonimato do Desejo e do outro, de modo que os jovens, ao terem dificuldade em transpor o que há de irrepresentável neste momento de suas vidas, acabam buscando, através de atos extremos, um modo de fazer-se representar no laço social.
ASSUNTO(S)
jeunesse – représentation sociale juventude representação violence – adolescence psychanlyse violência lien social adolescente psicanálise trasmission laço social
ACESSO AO ARTIGO
http://hdl.handle.net/10183/15579Documentos Relacionados
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