“Isso não é um livro de história”: Michel Foucault e a publicação de documentos de arquivos

AUTOR(ES)
FONTE

Topoi (Rio J.)

DATA DE PUBLICAÇÃO

2019-04

RESUMO

RESUMO Entre 1973 e 1982, Michel Foucault dedicou-se à publicação de documentos de arquivo. Em 1973, publicou o memorial de Rivière; em 1977, os extratos do livro de um libertino inglês; em 1978, as lembranças de uma jovem hermafrodita; e em 1982 uma seleta de documentos judiciários. Dividido em duas partes, este artigo busca compreender o que esteve em jogo nesse gesto arquivístico-editorial. Na primeira parte, analisarei as relações existentes entre os textos que compõem esse corpus e como se inserem no quadro, então, de suas pesquisas. Depois, estudarei os deslocamentos existentes entre o projeto de publicação de uma coletânea de arquivos da infâmia e a publicação do livro com documentos da Bastilha. Na segunda parte, apresentarei duas hipóteses sobre os problemas ligados a esse projeto editorial: 1) Mostrarei que se tratava de um estudo das condições extraliterárias da constituição da literatura como saber; 2) Mostrarei como seu empenho em publicar documentos não pretendia apenas dar a palavra aos sem-história, mas assinalar que havia um pensamento em suas falas. Esse empenho chocava-se com um dos principais dogmas historiográficos contemporâneos.ABSTRACT Between 1973 and 1982, M. Foucault dedicated himself to editing and publishing archival texts. He published Pierre Rivière’s memorial in 1972, extracts from an English libertine’s book in 1978, and the memoirs of a young hermaphrodite in 1979. In 1982, he published a selection of documents from court archives. This article, organized in two parts, aims to understand what was at play in that archivistic-editorial endeavor. In the first part, I analyze the relations among the texts that make up that corpus and their insertion in Foucault’s overall research work of that period. Then, I address the contrasts between the project to publish a collection of archives of infamy, as it was announced in 1977, and the book actually published in 1982 with documents of the Bastille. In the second part, I put forward two hypotheses I consider to be connected to that editorial project: 1) it was a study of extra-literary conditions of the constitution of literature as knowledge; and 2) his effort to publish archival documents sought not only to “give voice” to those with no history, but also to show that a thought was embedded in their pronouncements. Foucault’s performance swam against the main currents of historiographical dogmas at the time.

Documentos Relacionados