Interrogations about the autistic and the act of negation in subject s constitution / Interrogações sobre o autismo e o ato de negação na constituição do sujeito

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Este trabalho partiu de algumas indagações surgidas da clínica com crianças autistas; indagações que remetiam à própria questão da constituição do sujeito na linguagem e que não se esclareciam somente no entendimento e na definição da patologia. A negação apresentou-se como uma possibilidade de interrogar tanto as falas ecolálicas, que surgem nesses casos, quanto o que é percebido na clínica como uma exclusão do Outro. Esses aspectos pareciam relacionados à impossibilidade de essas crianças articularem seja uma recusa seja um apelo. Considerei que a hipótese de uma exclusão do Outro se revelava paradoxal em relação à suposição de uma ausência de subjetividade nos autismos. Apresentada por Freud no artigo Die Verneinung (1925), a negação proporcionou um entendimento da articulação entre o dentro e o fora na estruturação do sujeito e do inconsciente na linguagem; pontos fundamentais para pensarmos a articulação corpolinguagem. O retorno ao texto freudiano – no qual encontramos questões que envolvem a psicanálise, a lingüística e a filosofia, em relação à própria concepção de existência – parte de um diálogo entre Lacan e Hyppolite (1954), em que o estudo da negação é relacionado a uma simbolização primordial que se traduz como uma forma de desconhecimento e que se apresentou como um caminho de entendimento da função da falta e do vazio na estruturação do inconsciente e da entrada do Outro no discurso. Nas operações de alienação e separação (Lacan: 1964), foi situada a entrada do significante, a partir do campo do Outro, como operador de uma borda necessária ao estabelecimento de um circuito pulsional e de uma escolha forçada que se apresenta na captura do sujeito na linguagem, em que uma perda é necessária: a perda do puro vivo. Para pensar a negação em relação à captura da criança na linguagem, também foram trazidas questões levantadas por Freud em Além do Princípio de Prazer, em que se encena um jogo de presença e ausência (instituído pelos significantes Fort-Da) que, articulados por um circuito de demandas e sua relação com a função do desconhecimento, levou a um estudo sobre o transitivismo. Retomo ainda alguns problemas já levantados nos estudos da negação na aquisição de linguagem, em relação às dificuldades encontradas nas tentativas de estabelecimento das etapas de seu desenvolvimento lingüístico, que acabam descartando a singularidade dos casos e delegam ao campo psicológico as explicações necessárias. Diferentemente, a psicanálise apresenta-se como um lugar de reflexão sobre a negação, a partir da questão dos fragmentos da fala do outro que surgem na fala da criança e da dessimetria que aí se apresenta. Assim, este trabalho propõe uma visada do ato de negação como possibilidade de incorporação da fala do outro; em contraposição à fala ecolálica apresentada nos autismos, na qual não percebemos uma articulação corpolinguagem.

ASSUNTO(S)

negation autismo psychoanalysis psicanalise autistic

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