Instituto Brasil-Estados Unidos: uma experiência no campo artístico carioca

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

07/08/2009

RESUMO

No período que se estende entre meados da década de 40 e início da década de 60, grandes transformações se processaram no campo artístico brasileiro. Nesse momento, novos estabelecimentos artísticos foram criados, os critérios para a avaliação dos artistas e das obras de arte sofreram alterações e um debate entre os defensores da figuração e os defensores da abstração se iniciou após a sedimentação da arte moderna no Brasil. Nessa disputa entre diferentes concepções de arte moderna, o Instituto Brasil-Estados Unidos (IBEU) se destacou por valorizar os artistas não consagrados e as correntes artísticas consideradas vanguardistas. Criado em 1937, no Rio de Janeiro, com o objetivo de promover a solidariedade espiritual entre o Brasil e os Estados Unidos, o instituto se sobressaiu, principalmente, por patrocinar exposições de arte moderna. Essa característica se tornou mais flagrante com a formação de uma comissão de arte no instituto, em 1944, cujos membros foram responsáveis por incentivar os valores novos da arte. Para enfatizar a imagem do IBEU como um espaço destinado aos valores modernos, os membros dessa comissão de arte patrocinaram as primeiras exposições individuais de vários artistas considerados abstratos, dentre eles Almir Mavignier, Ivan Serpa, Franz Weissman, Iberê Camargo, entre outros. A presença desses artistas nas exposições organizadas pelo IBEU era justificada pelo fato de não existir uma preocupação com o mercado, isto é, com a comercialização das obras. Ao proferirem o discurso do exorcismo do lucro econômico como forma de agregar legitimidade cultural, os membros da comissão de arte do instituto reforçaram o caráter puramente cultural da galeria IBEU, que se diferenciava das galerias de arte mais comerciais, e, por isso, poderia funcionar como um espaço destinado à revelação de novos artistas. No entanto, esse discurso adotado pelos membros da comissão, negando a influência do mercado nos assuntos artísticos, deve ser compreendido tendo em vista a especificidade da galeria IBEU: ela estava inserida em uma instituição mais ampla, criada para promover o intercâmbio entre o Brasil e os Estados Unidos. O incentivo às artes plásticas era apenas uma dentre outras atividades desenvolvidas pelo instituto com o intuito de impulsionar as trocas culturais entre os dois países. Desse modo, o IBEU patrocinou diversas exposições de artistas norte-americanos e contou com o auxílio de instituições como o Museu de Arte de Nova York (MoMA). No entanto, essa relação com as instituições artísticas norte-americanas não explica totalmente os rumos tomados pela galeria IBEU. Isso porque nem sempre foi possível contar com a colaboração dessas instituições para a realização de mostras na galeria, o que gerou a necessidade de montar uma programação de acordo com as condições oferecidas pelo campo artístico local. Assim, para suprir a demanda por uma arte de boa qualidade, os membros da comissão de arte investiram nos artistas que ainda não desfrutavam de reconhecimento, mas que já despontavam como representantes dos valores modernos na arte. Esse investimento sugere uma percepção aguçada dos agentes culturais do IBEU, que compreenderam as mudanças no campo das artes plásticas e puderam acionar uma estratégia adequada para conquistar legitimidade cultural.

ASSUNTO(S)

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