Inserção socioprofissional de jovens do campo: desafios e possibilidades de egressos da Escola Família Agrícola Bontempo

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Este estudo teve como objetivo analisar a inserção socioprofissional de jovens do campo, a partir dos egressos da Escola Família Agrícola Bontempo, situada no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. A EFA Bontempo, criada em 2000, trabalha através da Pedagogia da Alternância, modalidade de educação regular, desenvolvida no Brasil há mais de cinquenta anos. A EFA Bontempo foi a primeira, em Minas Gerais, a ofertar o Ensino Médio de Nível Técnico, tendo como público prioritário os filhos dos agricultores familiares do Vale do Jequitinhonha. Buscouse identificar e analisar os desafios e possibilidades vivenciados pelos egressos para inserção no espaço produtivo, social, político e cultural. Para tanto, a investigação teve como foco o projeto profissional, construído no percurso formativo da EFA, e considerado eixo mediador da inserção dos jovens. Adotou-se a abordagem quali-quantitativa por entender que são abordagens interligadas, essenciais na compreensão do objeto de estudo. Entre as fontes de coleta de dados, recorreu-se à pesquisa documental, ao questionário e entrevistas semiestruturadas. Do universo de 146 egressos da EFA Bontempo, compreendendo o período de 2003 a 2007, foram enviados questionários para 128 e destes, 90, deram retorno à pesquisa. A análise dos dados coletados através de questionários revela que, entre os noventa egressos participantes da pesquisa, 59 são do sexo masculino e 31 do sexo feminino. Estão na faixa etária entre 19 e 42 anos, sendo a maioria entre 21 e 26 anos, tanto homens quanto mulheres. Entre eles, 85% são solteiros, e, entre os casados, os homens são maioria. A opção dos egressos pela EFA Bontempo foi prioritariamente por ser uma escola que oferecia Ensino Médio e Técnico. Constata-se que 39% dos egressos, cursaram ou estão cursando Ensino Superior. Esse fenômeno revela que, para além da tendência de maior acesso das juventudes ao Ensino Superior, principalmente nos últimos anos, o prolongamento da escolarização está relacionado à falta de emprego, que também se dá no campo. Embora uma minoria dos egressos tenha colocado seus projetos profissionais em prática, boa parte tentou e não conseguiu e a maioria gostaria de colocá-lo em prática. O estudo revela que a escolha dos temas dos projetos está relacionada às atividades das famílias, que majoritariamente, se encontram na área da produção agropecuária. Dos desafios apresentados pelos egressos para aplicarem seus projetos, entre outros, destaca-se o acesso a terra e ao crédito, principalmente ao Pronaf Jovem. Os dados mostram que, direta ou indiretamente, a formação em alternância contribuiu para melhorar a participação social dos jovens, pois 89% participam de atividades sociais na comunidade. As atividades da agricultura familiar, comércio, educação, organização social, movimentos sociais e sindical são as áreas de maior inserção profissional dos egressos. Constatou-se que 63% dos egressos estão em ocupações compatíveis com a sua formação, no entanto, 98% desejam inserir. A análise desse fenômeno mostra a importância para os jovens do campo de ter oportunidades de acesso à formação profissional e trabalho, condições essenciais para usufruir do direito à liberdade de sair do campo, e mais especificamente, do Vale do Jequitinhonha, por opção, não por falta de oportunidades. Assim, concluímos que, apesar dos desafios postos aos jovens do campo, egressos da EFA Bontempo, o cenário é também de possibilidades de inserção em diversos espaços produtivos, social, cultural e político no campo e na cidade.

ASSUNTO(S)

escola família agrícola bontempo. educação aspectos sociais teses. educação rural. ensino agricola. ensino profissional. educação teses.

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