Ingestão de gordura trans na gestação e lactação inibe o efeito anorexígeno central da insulina e da serotonina na prole adulta. / Trans fat intake during pregnancy and lactation inhibits the central anorexigenic effect of insulin and serotonin in the adult offspring.

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Os ácidos graxos trans (AGT) estão presentes no sangue e leite maternos em quantidades proporcionais à ingestão materna e são incorporados em diversos tecidos do organismo fetal e do neonato. No presente trabalho avaliamos se a ingestão materna de ácidos graxos trans na gestação e lactação afeta, nos filhotes machos adultos, a composição de ácidos graxos (AG) cerebrais, a sensibilidade à ação anorexígena central da insulina e serotonina e o teor hipotalâmico de proteínas que participam destes sistemas de homeostase energética. Ratas Wistar foram distribuídas em dois grupos, segundo a dieta ofertada durante toda a gestação e lactação: grupo Controle, que recebeu dieta à base de óleo de soja (8%) como fonte de gordura e grupo Trans, que recebeu dieta à base de gordura vegetal hidrogenada (7%) adicionada de 1% de óleo de soja. Do desmame, realizado no 21 dia da lactação, até os 3 meses de vida, a prole de machos controles foi mantida com a dieta controle (grupo Controle, C) enquanto a prole de machos trans foi distribuída em dois grupos: Trans-Controle (TC), o qual passou a receber dieta controle e grupo Trans (T) que permaneceu recebendo dieta trans. Aos 90 dias de vida avaliamos a ingestão alimentar de 24 horas, massa corporal, teor de proteína e gordura em carcaça, concentrações séricas de glicose e insulina e a ingestão alimentar em resposta à infusão intracerebroventricular (i.c.v.) de insulina (10 mU) ou serotonina (200 μg). Estabelecemos o perfil de AG dos lipídios totais do cérebro e hipotálamo e dos fosfolipídios do hipotálamo em animais de 21 e 90 dias. Quantificamos por "immunoblotting" o teor hipotalâmico do receptor de insulina (IR) e do substrato 1 do receptor de insulina (IRS-1) e também o teor dos receptores serotonérgicos 1B (5-HT1B) e 2C (5-HT2C) e do transportador de serotonina (5- HTT). Não observamos diferenças significantes na ingestão alimentar, massa corporal, teor de proteína e gordura em carcaça e insulinemia, entretanto verificamos concentração sérica elevada de glicose nos animais do grupo Trans Controle. Não detectamos AGT no cérebro e hipotálamo do grupo Controle, havendo baixa incorporação nos grupos Trans e Trans-Controle. Neste, o teor de AGT dos lipídios totais do hipotálamo foi mais alto que o do grupo Trans. Nos lipídios totais do cérebro dos animais Trans de 21 dias, ressaltamos menor teor dos ácidos graxos AA, DHA e AG poliinsaturado total, enquanto que aos 90 dias apresentaram menor teor do linoléico e EPA. No grupo Trans-Controle houve maior teor de AA e AGP total e menor teor do total de monoinsaturados e saturados, em relação ao grupo Trans. No hipotálamo, o perfil de AG dos lipídios totais mostrou menor teor de linoléico e EPA apenas nos animais Trans de 21 dias. No grupo Trans-Controle ressaltamos alterações tanto em comparação ao grupo Controle quanto ao grupo Trans, apresentando maior teor do AG mirístico e total de saturados e menor teor de linolênico, AA, EPA, DHA e total poli- e monoinsaturados. Na análise do perfil de AG em fosfolipídios do hipotálamo, ressaltamos, aos 21 dias (grupo Trans), menor teor de linoléico, enquanto que aos 90 dias este grupo não apresentou alterações importantes. No grupo Trans-Controle, observamos maior teor do mirístico e total de saturados e menor teor de monoinsaturados. Na avaliação da ingestão alimentar em resposta à infusão de insulina ou de serotonina, verificamos que ambas as substâncias inibiram a ingestão alimentar nos grupos Controle e Trans, enquanto que no grupo Trans-Controle não foram capazes de inibir a ingestão. Verificamos que os teores hipotalâmicos de IR e IRS-1 foram significantemente menores no grupo Trans e Trans-Controle, respectivamente, em comparação ao grupo Controle. Nenhuma diferença significante foi observada no teor das proteínas envolvidas na ação anorexígena central da serotonina. Concluímos que o efeito da ingestão de AGT foi mais pronunciado no grupo Trans-Controle, entretanto o grupo Trans também mostrou sinais de modificação nos mecanismos de sinalização do apetite. Estes dados sugerem que a exposição aos AGT, em períodos críticos do desenvolvimento, impõe adaptações ao controle central da ingestão alimentar que podem se tornar deletérias tardiamente.

ASSUNTO(S)

1. trans fatty acids 2. serotonin 3. insulin 4. hypothalamus ciências da saúde 1. Ácidos graxos trans. 2. serotnina. 3. insulina. 4. fosfolipídios. 5. hipotálamo.

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