Influência geoambiental em mudanças de atitudes e atividades econômicas na colônia Witmarsum, Paraná

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

A Colônia Witmarsum localizada no município de Palmeira no Estado do Paraná detém um dos mais importantes testemunhos da atuação da glaciação em território brasileiro. Trata-se do pavimento estriado, hoje convertido em monumento geológico, através da ação da Mineropar (Minerais do Paraná) seguindo a proposta do Projeto Caminhos Geológicos desenvolvido no Rio de Janeiro. O pavimento formou-se durante os períodos Carbonífero e Permiano, períodos esses, que a região sofreu movimentos de soerguimento que a expôs a longos processos erosivos. O mais conhecido pavimento teria se formado em um ambiente de planície costeira relativamente baixa que possibilitou tanto a sedimentação arenito-conglomerática flúvio-glacial quanto glácio-lacustre. Como resultado das geleiras existentes nesse período formaram-se as estrias, provavelmente em decorrência de duas glaciações distintas. A mais antiga é designada de Rio do Salto e a subseqüente de Cancela. A área da colônia está assentada sobre a Formação Furnas e o Grupo Itararé. A Formação Furnas constitui-se basicamente de arenitos de idade siluriana a devoniana, enquanto que o Grupo Itararé compõe-se basicamente de diamictitos e arenitos formados durante os períodos glaciais e periglaciais ocorridos no Permo-Carbonífero. Embora o pavimento localizado próximo à fábrica de Laticínios Cancela seja o mais estudado e conhecido da literatura especializada, outro afloramento do mesmo tipo foi identificado e tem a chance de também ser transformado em monumento geológico. A Colônia Witmarsum possui peculiaridades culturais além das naturais que a distingue no cenário brasileiro. Os colonos que a habitam são de origem teuto-russa e chegaram ao Brasil na década de 1930 refugiados da Rússia que, naquele momento histórico, estava envolta com a revolução socialista. O grupo estabelecido em Witmarsum professa a religião menonita, derivada do movimento anabatistas (rebatizadores) surgido na Suíça no século XVI. O termo menonita advém do nome do fundador dessa corrente religiosa, Menno Simons. De um modo simplificado, os pilares de fé dessa religião concentram-se no batismo dos adultos, na negativa ao juramento, na negativa à prestação do serviço militar e na separação do mundo. Os menonitas estabelecidos no Brasil passaram por um processo adaptativo e incorporaram certos traços da cultura brasileira. Um exemplo disso é a prática de uma atividade econômica diferente da qual era executada na Rússia e a adoção do português como a terceira língua falada pela comunidade em supressão ao russo, embora o alemão seja mantido como língua principal e diária do grupo. No início do processo de colonização de Witmarsum, os menonitas tentaram introduzir a agricultura temperada que se mostrou ineficiente em decorrência das condições naturais da região. Diante do fracasso da produção agrícola, a opção converte-se para a pecuária leiteira, atividade que predomina até hoje. Entretanto, as mudanças econômicas que atingiram o Brasil infiltraram-se também em Witmarsum e impulsionaram a busca de novas fontes de produtividade. Decorrente do ambiente natural que cerca a colônia, área inserida dentro do domínio de Campos Gerais, presença de pavimentos estriados e formação de grutas, parte dos colonos tem procurado adotar uma nova vertente econômica que converge para a adoção do geoturismo. Essa atividade tem sido introduzida de forma tímida, mas surge como uma promessa de apoio econômico para a atividade tradicional vigente na colônia. Juntamente com as riquezas naturais, a própria cultura constitui um atrativo a ser oferecido aos turistas que já começaram a procurar Witmarsum. O enfoque turístico preferido pelos colonos de Witmarsum é o ecoturismo, que entre outros motivos, atende aos interesses dos moradores de permanecerem na gerência da atividade e de controlarem, pelo menos em parte, o choque cultural entre os moradores e os turistas. O dilema vivido por alguns moradores é provocado pelo temor de que o turismo poderá provocar, tanto no meio físico quanto no meio cultural, mudanças muito significativas que afetem as tradições do grupo, tradições estas que são mantidas desde o século XVI.

ASSUNTO(S)

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