Influência das variações de cuidado materno na reatividade ao estresse de ratos no período neonatal

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Durante as duas primeiras semanas após o nascimento, os ratos mostram respostas neuroendócrinas diminuídas ao estresse, caracterizando uma fase conhecida como o “período hiporresponsivo ao estresse”. No entanto, é um período sensível do desenvolvimento do sistema nervoso, no qual o animal é suscetível a eventos ambientais, tais como estresse e qualidade do cuidado materno, os quais podem ter efeitos duradouros no indivíduo. No presente estudo, foram investigados os níveis plasmáticos de corticosterona e ocitocina e a atividade monoaminérgica central em ratos neonatos submetidos ao estresse por frio. Também foram investigadas as possíveis influências do gênero e do cuidado materno recebido. No final do 1º dia pós-parto (P0), 60 ratas Wistar tiveram suas ninhadas padronizados em 8 filhotes. Do P1 ao P10, as mães tiveram seus comportamentos maternos analisados de acordo com trabalhos anteriores, nos quais o comportamento de lambida foi tido como uma medida de qualidade de cuidado materno (freqüência média de lambida da população = 5,52 ± 0,19). As mães apresentando as menores e as maiores freqüências de lambida foram selecionadas como Pouco-Cuidadoras (média<4,18, n=12) e Muito- Cuidadoras (média>6,99, n=10), respectivamente. No P13, um par de filhotes foi removido da ninhada e imediatamente sacrificado por decapitação (grupo controle) e outros dois pares foram removidos da ninhada e colocados em um recipiente plástico dentro de uma câmara fria (0ºC, 6 min.), sendo sacrificados 15 e 30 min. após o término do estresse por frio. O sangue do tronco foi colhido para radioimunoensaio de corticosterona e ocitocina plasmáticas. Os encéfalos foram rapidamente removidos para dissecção dos hipotálamos e hipocampos que foram usados na análise das monoaminas e seus metabólitos na Cromatografia Líquida de Alta Performance. A ANOVA de três vias com Post Hoc de Duncan mostrou um efeito do estresse aumentando a corticosterona plasmática (p<0,001), comparada ao período pré-estresse (basal). As filhotes fêmeas de ambos os grupos e os filhotes machos e fêmeas Muito- Cuidados apresentaram níveis maiores de ocitocina plasmática (p<0,05 para ambos), comparados aos Pouco-Cuidados. O estresse também diminuiu a atividade da dopamina (p=0,05), comparado aos grupos controles. O efeito do cuidado materno foi também observado no hipocampo, cuja atividade serotonérgica foi maior em filhotes Muito- Cuidados (p=0,05), comparados a filhotes Pouco-Cuidados, independente do gênero. Conforme relatado anteriormente em outros trabalhos, o estresse aumenta a corticosterona plasmática em filhotes, mesmo no período hiporresponsivo. Os níveis plasmáticos aumentados de ocitocina na prole Muito-Cuidada estão de acordo com evidências a respeito do papel deste hormônio no apego mãe-filhote. A ocitocina aumentada em filhotes fêmeas mostra que diferenças hormonais quanto ao gênero já estão presentes no início da vida de roedores. Interessantemente, o estresse diminuiu a atividade dopaminérgica, o que está de acordo com resultados encontrados em certas áreas hipotalâmicas de animais adultos expostos ao frio. É sugerido que esse efeito seja devido à peculiaridade do estresse por frio, uma vez que as respostas monoaminérgicas podem variar dependendo do estressor usado. O hipocampo foi sensível ao cuidado materno, o qual já foi anteriormente indicado por ser uma importante estrutura encefálica cuja atividade é influenciada por diferentes qualidades de cuidado materno por meio da sinalização serotonérgica.

ASSUNTO(S)

estresse período neonatal comportamento materno ocitocina corticosterona

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