Infância, práticas educativas e de cuidado: concepções de educadoras de abrigo à luz da história de vida / Childhood, caring and educative practices: conceptions of shelters educators in the light of their life story

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O ECA prevê a proteção integral a todas as crianças e adolescentes sempre que seus direitos estiverem ameaçados, e está embasado numa concepção de infância em que a criança é considerada como sujeito de direitos, como pessoa em condição peculiar de desenvolvimento, e do interesse superior. Vários movimentos e ações vêm sendo vem sendo realizados para efetivá-lo em prática cotidiana, e uma vertente importante dessas ações diz respeito à qualificação dos recursos humanos dos diversos equipamentos de assistência à criança, entre os quais estão os educadores de Casas Abrigo. A literatura aponta para as diversas dificuldades que marcam o abrigo ainda como um espaço de ausências, da re-edição do abandono e da violência, e as iniciativas no sentido de torná-lo lugar de novas possibilidades para as crianças tornam necessários investimentos de toda ordem. Buscando uma melhor compreensão dessa realidade, esse trabalho voltou-se para as Educadoras de uma Casa Abrigo de uma cidade interiorana do Estado de São Paulo, com o objetivo de conhecer o que elas pensavam sobre infância, as crianças sob seus cuidados, e as práticas educativas destinadas a elas. Foram realizadas entrevistas com todas as educadoras da casa abrigo (10) na modalidade história de vida temática, que inclui dois momentos. Primeiramente, a participante fica livre para contar a sua história, a partir de aspectos que consideravam relevantes. Já num segundo momento, a pesquisadora coloca questões de interesse do trabalho e que porventura não tivessem sido abordadas na parte inicial da entrevista. As entrevistas, gravadas e transcritas literalmente, juntamente com o diário de campo, foram analisados a partir da perspectiva qualitativa. Os resultados apontaram para uma equipe de educadoras bastante diferenciadas (60% com nível superior em Assistência Social, Pedagogia, e Psicologia), com grande envolvimento no trabalho; sua história de vida sustenta uma visão de infância e de cuidado à ela bastante afinada à que embasa o ECA, focada na condição de desenvolvimento da criança. Por outro lado, a criança abrigada parece ser vista fora dessa óptica. Além disso, as educadoras sentem que no dia-a-dia da instituição não tem espaço para a autonomia, criatividade, espontaneidade, estímulo e o brincar, sentindo-se restritas aos cuidados básicos de alimentação e higiene. Assim, embora tenham uma percepção da infância bastante afinada à do ECA, não conseguem colocá-la em prática no interior do abrigo. Esbarram numa estrutura rígida e autoritária haja vista suas exigências, estruturação de rotina, horários e prioridades. Identificaram-se ainda descontinuidades (conflitos entre diferentes crenças) vivenciadas no contexto de trabalho, tanto entre o ideário delas próprias em relação à criança e sua educação e a prática atual, como entre o seu ideário e o do abrigo, muito semelhante ao modelo assistencial, correcional já ultrapassado, mas que tem raízes em um longo período na história da institucionalização de crianças. Assim, estamos diante de uma equipe que, embora com grande potencial, parece subutilizado, pois percebemos que tais educadoras sentem ter uma prática cotidiana muito diferente daquela que teriam condições de oferecer para a criança e em consonância à pretendida pelo ECA.

ASSUNTO(S)

práticas educativas e de cuidado. childhood. sheltering. educative and caring practices abrigamento infância

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