Identidades em crise: imigrantes, emoções e saúde mental em Portugal

AUTOR(ES)
FONTE

Saúde e Sociedade

DATA DE PUBLICAÇÃO

2010-03

RESUMO

Este artigo, baseado em 4 anos de pesquisa de terreno num serviço de saúde mental específico para imigrantes em Portugal, discute criticamente o carácter da experiência migratória enquanto factor de risco e patologia psíquica. As condições particularmente duras da migração contemporânea são consideradas como propícias a um aumento exponencial de psicopatologias. A ideia de que a emigração esteja indissoluvelmente ligada a formas específicas de sofrimento psicológico acabou para promover uma progressiva medicalização da experiência migratória. Esta leitura patologizante da experiência migratória funda as suas conclusões sobre o modelo de "selecção negativa", isto é: seriam os sujeitos fracos, pouco integrados na sociedade de origem, com escassas ligações afectivas e estrutura familiar instável a optar pela emigração, levando a que os seus distúrbios latentes se manifestassem particularmente no país de acolhimento. A representação da vulnerabilidade psicológica como característica intrínseca dos migrantes não toma todavia em conta a relação mais ampla entre sofrimento individual e experiência de exclusão, marginalização social, discriminação e precariedade das condições habitacionais e laborais, entre outros factores. O estereótipo do imigrante como pessoa frágil do ponto de vista mental, com um elevado risco de desenvolvimento de patologias psiquiátricas, permite transformar os problemas sociais, económicos e políticos de grupos desfavorecidos em elementos potencialmente patológicos que podem ser controlados e monitorizados farmacologicamente.

ASSUNTO(S)

imigrantes saúde mental patologização políticas públicas governabilidade

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