Ictiofauna de um córrego na Serra da Bodoquena: estrutura, variações longitudinal e temporal e efeitos sobre comunidades bentônicas

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

13/10/2010

RESUMO

Riachos usualmente apresentam padrões longitudinais de estrutura das comunidades de peixes. Diferenças se tornam bastante evidentes quando se compara comunidades de trechos altos, com gradiente mais inclinado, com aquelas de trechos baixos, com gradiente menor. Além desses fatores, o substrato e vegetação ripária também exercem papel importante na estruturação das ictiocenoses. Os peixes, por sua vez, podem influenciar de forma significativa o acúmulo de matriz perifítica (perifíton, detritos e sedimento) sobre superfícies de substratos duros e as comunidades de macroinvertebrados bentônicos. Neste trabalho investigamos essas influências e a variação espacial e temporal da estrutura das comunidades de peixes no córrego Salobrinha, um tributário da bacia do rio Miranda, que corta a região cárstica do planalto da Bodoquena (Bodoquena, Mato Grosso do Sul). Parâmetros físicos do ambiente (variáveis de tamanho dos trechos, substrato e cobertura vegetal) foram levantados para que pudéssemos proceder a uma descrição comparativa das estruturas físicas dos trechos amostrais. Fizemos uma comparação das ictiocenoses presentes nos trechos alto e baixo do córrego, por meio de coletas nas estações seca e chuvosa. Para tal, selecionamos seis trechos amostrais para realização de pesca elétrica. Três trechos estavam na parte alta do córrego, dentro do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, flanqueados por vegetação preservada; os outros três, na parte baixa do córrego, cortavam regiões onde a vegetação ao longo de uma ou das duas margens (com exceção de uma faixa muito estreita) foi substituída por pastagens. Quanto à parte física, o córrego apresentou tendência de diminuição de tamanho de grão do substrato, aumento de largura e conseqüente diminuição da cobertura vegetal na parte baixa. Foram registradas 42 espécies de peixes no córrego, com quatro delas (Astyanax lineatus, Hypostomus sp., Ancistrus sp., Hypostomus cochliodon) representando mais de 60% da biomassa de peixes coletados na parte baixa do córrego e mais de 80% na parte alta. As comunidades de peixes apresentaram menores variações espacial e temporal na parte alta, quando comparadas com o trecho baixo. A riqueza de espécies foi maior na parte baixa, com 23 espécies que apareceram apenas neste trecho, doze delas apenas na época de chuvas. Em experimento com gaiolas de inclusão/exclusão, incluindo Astyanax lineatus, Characidium cf. zebra e Ancistrus sp., a última espécie teve grande impacto sobre a quantidade de matriz perifítica, sugerindo que esta espécie, e as outras pertencentes ao grupo funcional de raspadores de perifíton, podem ser consideradas engenheiras ambientais no córrego estudado. Ancistrus sp. também influenciou de forma significativa a estrutura da comunidade de macroinvertebrados bentônicos por meio de grande diminuição da abundância relativa de Chironomidae. Astyanax lineatus não exerceu influência sobre os macroinvertebrados e matriz perifítica, enquanto que a espécie de Characidium teve exerceu influência significativa sobre aqueles componentes, mas mais discreta que no caso de Ancistrus sp.

ASSUNTO(S)

fauna bentônica peixes perifiton ecologia

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