Histórias de Aukê e seus gêmeos : uma releitura dos movimentos messiânicos dos Krahô e dos Ramkokamekrá

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O objetivo deste trabalho e oferecer uma releitura dos movimentos messianicos dos indios Kraho e Ramkokamekra, desencadeados nas decadas de 1950 e 1960. Ambos os grupos integram, junto com outros povos, os Timbira, da familia linguistica Je, situados no cerrado dos estados do Tocantins e do Maranhao, como tambem na floresta tropical paraense, entre os afluentes do medio Tocantins (Kraho) e as cabeceiras do rio Mearim (Ramkokamekra). Para tanto, releio as descricoes e analises etnologicas a respeito de manifestacoes ocorridas entre ambos os grupos que sao tradicionalmente estudadas na antropologia sob a rubrica do messianismo e do cargo-cult. Me detenho em tal literatura relendo-a, por um lado, de modo a acompanhar como tais fenomenos, vistos enquanto desdobramentos do mito de Auke, compoem as relacoes sociais timbira. Neste sentido, destaco a eclosao de personagens miticos e a forma como os indigenas se depararam e lidaram com os mesmos, isto e: como uma tentativa de personifica-los como herois demiurgos ao seguir suas prescricoes, que tambem propiciariam a metamorfose dos indios em brancos. Por outro lado, focalizo essas tentativas de metamorfose como parte de uma serie de diversos experimentos dos Kraho em abandonar o modo de vida nativo, trocando as aldeias redondas por pequenas vilas no molde sertanejo. Assim, pretendo tratar os ditos movimentos como a forma Timbira de experimentar: por meio de metamorfoses, modo que segue uma mesma logica subjacente a vida cerimonial e ao sistema de caca a captura. Tudo isso, e relacionado a presenca dos brancos que, segundo os indios, se tornaram nos tempos miticos o que sao hoje, seres poderosos e instaveis. Foi com o surgimento de Auke que tal fato ocorre. Este ente mitico criou naqueles tempos um aparato cultural poderoso e destrutivo, o qual ofertou aos indios que o recusaram. Dai tal aparato foi entregue aos brancos, que o detem ate hoje, mas o manuseiam de modo intempestivo. Tendo consciencia dessas questoes que os indios desencadeiam os movimentos messianicos, para reverter a ma escolha, pois inves de deterem o aparato cultural inventado por Auke os indios optaram pelo arco e a flecha, ficando a merce da instabilidade dos brancos. A tentativa de capturar a cultura retida pelos brancos, assim, nos oferece uma serie de questoes para pensar como indios desenvolvem historicamente sua forma de lidar com os brancos, buscando entender tal gente e ter o bom-senso do aparato cultural que estes detem.

ASSUNTO(S)

reversão da má escolha gemelaridade bad choice reversal good sense experimentation movimentos messiânicos gemelarity bomsenso messianic movements experimentação captures fogo/cultura captura fire/culture antropologia

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