Histórias da periferia: a maconha no mundo de jovens estudantes de uma escola pública de São Paulo - Uma análise fenomelógica

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

A história sobre o consumo de maconha nos mostra que os significados atribuídos a este foram sendo alterados no decorrer dos anos. Prevalece, atualmente, uma tendência para se estigmatizar esse uso e atribuir a ele a idéia de um "problema". Em função dessa tendência, o uso de maconha configura uma realidade encoberta por ideologias e contradições, permanecendo, muitas vezes, velado o próprio fenômeno do uso dessa substância. De acordo com o referencial da análise existencial, para compreendermos o sentido de um fenômeno, devemos levar em conta o contexto dentro do qual este acontece. Assim, o presente estudo teve como objetivo compreender o sentido da maconha a partir do mundo de jovens estudantes de uma escola pública na periferia da cidade de São Paulo. Adotamos, para a realização desta pesquisa, um método qualitativo de base fenomenológico existencial. O recurso básico utilizado foi o relato dos participantes sobre o fenômeno estudado, tal como experienciado por eles próprios. Os relatos dos jovens foram colhidos durante oito encontros coletivos realizados com alunos da oitava série na escola. Não houve um roteiro fechado de entrevista nem tampouco a definição prévia de todos os passos do processo. Cada encontro foi estruturado sempre a partir do que surgiu do encontro anterior, conforme a proposta da prática reflexiva. A análise dos dados foi feita a partir de uma hermenêutica, que busca o sentido das experiências descritas pelos jovens, em um movimento de ir trazendo à luz aquilo que permanece encoberto: o sentido projetado por eles para o uso de maconha. Como síntese do conjunto de informações obtidas vimos que, no mundo dos jovens da periferia, as fronteiras entre maconha e drogas, usuário e traficante, tráfico e outros crimes praticamente não existem. Logo, o uso de maconha representa para esses jovens um risco muito grande. A proximidade das drogas, no mundo em que vivem, impõe a redobrada tarefa de cuidarem da própria vida. Para eles, diante das precariedades da vida na periferia, o uso de maconha fica associado à necessidade de anestesia do desespero. Apesar de apresentar-se como possibilidade de sedação e fuga do desamparo a que estão expostos, esse uso pode prejudicar seus projetos. Mesmo quando percebem que o uso de maconha possui algum fascínio, eles têm a percepção clara de que, diante dos desafios impostos pela condição de vida em que se encontram, tal experiência viria dificultar o caminho de realização de seus sonhos. Esta investigação é um esforço no sentido de compreender o uso da maconha, incluindo, no processo de construção do saber, aqueles que mais diretamente estão envolvidos com a questão

ASSUNTO(S)

psicologia machonha e drogas

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