Historia natural de uma floresta estacional semidecidual no municipio de Campinas (São Paulo, Brasil)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2000

RESUMO

O presente estudo visou descrever os regimes de luz e a estrutura de diferentes trechos de uma Floresta Estacional de Semidecidual do sudeste brasileiro (Reserva Municipal da Mata de Santa Genebra - RGS). Foram estudados três trechos (áreas A, B e C) dessa floresta que apresentavam distintos graus de perturbação e diferentes estruturas de comunidade. A RGS situa-se próxima a área urbana no município de Campinas (São Paulo, Brasil, 22°49 S e 47° 06 WG), sendo o que o clima regional apresenta uma precipitação anual média é de 1381 mm e uma temperatura média anual de 20,7 °C (1961 e 1990). Em cada uma dessas três áreas foi instalada uma malha de parcelas contíguas, formando um retângulo de 50 x 70 m (3.500 m2), subdividido em 35 parcelas de 10 xl0 m (100 m2). Em cada área todos os indivíduos arbustivo-arbóreos com P AP (perímetro a altura do peito) ~ 15 cm foram coletados, identificados e classificados em termos sucessionais em: espécies pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias ou não caracterizadas. A partir desses dados calculou-se os parâmetros fitos sociológicos de todas as espécies e também das categorias sucessionais presentes em cada área. Todos os indivíduos amostrados foram mapeados e o local (clareira, dossel ou sub bosque) onde cada indivíduo se encontrava foi anotada durante os trabalhos de campo. No conjunto das três áreas foram amostrados 1.134 indivíduos, 129 espécies, 102 gêneros e 47 famílias. Os resultados obtidos revelaram marcantes diferenças na predominância das categorias sucessionais em cada uma das áreas e na distribuição dos indivíduos dessas categorias entre o dossel, sub-bosque e as clareiras. A área C apresentou 35 espécies secundárias tardias, 35 espécies secundárias iniciais, 13 espécies pionieras, a área B respectivamente, 24,27 e 11 e a área A, 16, 11 e 9. A área A, embora apresentasse uma densidade total estimada de apenas 654,29 ind.ha-1, somente 37 espécies arbustivo-arbóreas e um índice de diversidade (H ) de 2,847, foi considerada a mais madura dentre as três áreas estudadas, pois nela 66,9% do IVC da comunidade pertencia as espécies secundárias tardias. A área C que apresentava 1.297,14 ind.ha-I, 90 espécies e um H de 3,968, foi considerada intermediária em termos de maturidade relativa, por que nela 57,8% do NC da comunidade pertencia a espécies iniciais (pioneiras + secundárias iniciais). A área B, considerada a mais perturbada das três áreas, apresentav~ 1.097,14 ind.ha-I, 68 espécies e um H de 3,472, no entanto, 66,7% do NC dessa comunidade pertencia a espécies iniciais (pioneiras + secundárias iniciais). Em cada uma dessas áreas, desenvolveu-se também, durante um ano (1994/1995), o estudo dos regimes de luz existentes nas clareiras, no sub-bosque sob dossel perenifólio e no sub-bosque sob dossel decíduo. Em cada área, utilizando-se 8 sensores de PAR e um datalogger, em uma semana a cada mês, coletavam-se simultaneamente amostras a cada 1 minuto e em outro dia registravam-se médias de amostras coletadas ao longo de 5 minutos, sempre das 9:30 as 17:00 h. Na maioria das áreas de sub-bosque estudadas a maior parte dos registro obtidos foram inferiores a 10 Jimo1.m-2.s1 de PPFD, enquanto nas clareiras a maior parte doe registros esteve acima desse valor. Considerados todas as áreas, os máximos valores de PPFD total diária* variaram no sub bosque sob dossel perenifólio entre 0,67 e 2,8 moI .m-2 .doI, no sub-bosque sob dossel decíduo entre 1,43 e 10,90 moI .m-2.d-I e nas clareiras 4,0 e 23,71 moI .m-2 .doI. As áreas de sub-bosque sob dossel decíduo apresentaram na maior parte do ano regimes de luz semelhantes aos do sub-bosque sob dossel perenifólio, mas durante a perda de folhas no dossel sobre os sensor, apresentaram regimes de luz semelhantes as clareiras. Nessas floresta a penetração de luz através das copas das árvores decíduas do dossel resultou não apenas em aumentos na PPFD total diária* e nos "sunflecks" recebidos no subbosque sob a árvore decídua, mas também, em aumentos nos níveis de radiação difusa de fundo nas áreas de sub-bosque sob dossel perenifólio. Esses dados confirmam que nessas florestas, ao contrário, do que se observa nas Floresta Tropicais Úmidas, existem quatro e não apenas três regimes de luz distintos: o das clareiras, o do sub-bosque sob dossel perenifólio, o da transição sub-bosque/clareira e o do sub-bosque sob dossel decíduo. A latitude, a deciduidade e a declividade foram os principais fatores que determinaram os regimes de luz observados na RGS. A presença de uma maior variação e heterogeneidade na disponibilidade de luz no subbosque dessa floresta semidecídua, sugere que a dinâmica e as adaptações das espécies arbustivo-arbóreas existentes nessa formação, devem ser diferentes daquelas descritas nas Florestas Tropicais Úmidas. As diferenças observadas na distribuição espacial dos indivíduos das diferentes categorias sucessionais em cada uma das áreas amostradas, podem ser interpretadas como resultantes do histórico de perturbação, da idade relativa e dos regimes de luz existentes nesses distintos trechos de floresta, embora outros fatores, como a alelopatia, possam também, estar agindo de forma significativa na estruturação dessas comunidades. A existência de distintos regimes de luz sob árvores perenifólias e decíduas do dossel, as observações de campo e informações existentes na literatura, permitem sugerir que as árvores do dossel de uma floresta podem estar agindo, sobre as plantas que se desenvolvem sobre elas, como "filtros da biodiversidade" . Todos esses aspectos sugerem que a dinâmica das Florestas Estacionais Semidecíduas é uma área onde muitas questões não foram ainda respondidas

ASSUNTO(S)

florestas tropicais ecologia vegetal

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