História natural de Sporophila hypoxantha cabanis, 1851 (aves: emberizidae) em campos de altitude no sul do brasil

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

09/03/2012

RESUMO

Estudamos a história natural do caboclinho-de-barriga-vermelha (Sporophila hypoxantha), uma espécie importante nos habitats campestres sul-americanos e pobremente conhecida do ponto de vista da sua biologia e ecologia. Dados foram coletados durante três temporadas reprodutivas (entre novembro e março de 2007/2008, 2008/2009 e 2009/2010) em áreas de campos secos íngremes ao longo do rio Lava- Tudo, localidades de Coxilha Rica (Lages) e Estância do Meio (São Joaquim), sudeste de Santa Catarina (28 18 S, 50 17 W; 800-1000m de altitude). Monitoramos 69 ninhos, revisando o conteúdo a cada 2-6 dias, e avaliamos aspectos da cronologia, territorialidade, nidificação, atributos dos habitats selecionados, características dos ninhos, ovos e ninhegos, cuidado parental, destino dos ninhos (sucesso reprodutivo) e sobrevivência diária. Machos imigram na primeira semana de novembro e logo iniciam o estabelecimento e defesa de territórios. Com a chegada das fêmeas, alguns dias após, inicia a seleção dos machos e escolha dos sítios de nidificação. O pico de ninhos ativos se deu na segunda quinzena de novembro. Fêmeas constroem os ninhos sozinhas, mas assistidas de perto pelos machos, atividade que leva 3-6 dias. A espécie selecionou sítios planos marcados por um denso estrato médio, ricos em arbustos como Vernonia chamaedrys, Eupatorium polystachyum, Baccharis caprariifolia e touceiras de Andropogon lateralis, evitando habitats com maior adensamento do estrado superior, maior declividade e ocorrência de pequenas árvores como Escallonia megapotamica. Esses ambientes preferenciais ocorrem em áreas de intensidade moderada de pastoreio e pouca queima. Os pequenos ninhos têm formato de tigela, feitos com pendões finos de capins como Eragrostis polytricha, sobre arbustos (principalmente V. chamaedrys e E. polystachyum, 66%), a uma altura média de 41,9 0,8 cm em relação ao solo. A ninhada é de dois (91%) ou três ovos. A incubação, realizada apenas pela fêmea, dura 12 dias. Em 60% do tempo a fêmea permanece incubando e cada visita dura entre 20 e 31 min. Os ninhegos são alimentados pelas fêmeas nos primeiros dias de vida e, a partir do quinto, o macho passa a ajudar. São realizadas 4,6 0,7 e 8,95 1,8 visitas para alimentar ninhegos de 1-4 e 6-9 dias de vida, respectivamente. Com 30 dias os filhotes tornam-se independentes. Os parâmetros básicos da biologia reprodutiva encontrados assemelham-se aos disponíveis na literatura para as populações residentes da Província de Formosa, Argentina, salvo por apresentar temporada mais curta, construção de ninhos mais rápida e menor média de duração de visitas de cuidado aos ninhegos. De 55 ninhos que tiveram o status final confirmado, 40% tiveram sucesso. O sucesso Mayfield foi de 25%. Predação foi a principal causa de perda de ninhadas (55% dos ninhos insucesso), seguida de abandono, infestação por larvas subcutâneas de Philornis seguyi, pisoteio pelo gado e queima. A taxa de sobrevivência diária foi maior no período de incubação (0,945) do que de ninhego (0,927). Esse padrão também foi corroborado pela análise no programa MARK, que encontrou uma forte queda na sobrevivência diária ao longo dos 21 dias (12 de incubação e nove de ninhego) de ciclo de nidificação. Isso pode estar relacionado com a atividade no ninho (maior nas fases finais do ciclo), como prediz a hipótese de Alexander Skutch. Também ocorreu uma queda gradual na taxa de sobrevivência diária ao longo da temporada reprodutiva, que pode ser resultado de menor aptidão (fitness) nos reprodutores tardios, além da maior intensidade de infestação por Philornis, com aumento de temperatura. A produtividade média foi de 0,77 filhotes por casal, que produz apenas uma ninhada por estação (salvo dois casos de casais que perderam a ninhada e tentaram novamente). Por fim, analisamos um possível híbrido entre S. hypoxantha e S. melanogaster registrado por dois anos consecutivos na área de estudos e bem documentado. Esse apresentava vocalização completamente condizente com o padrão de S. hypoxantha e plumagem como em S. melanogaster, embora possa representar um típico caso de aprendizagem interespecífica de canto. Esse padrão nunca havia sido constatado.

ASSUNTO(S)

zoologia pÁssaros - brasil aves - hÁbitos e conduta biologia zoologia

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