Historia natural de Phyllomedusa distincta, na Mata Atlantica do Municipio de Sete Barras, Estado de São Paulo (Amphibia, Anura, Hylidae)

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1994

RESUMO

o objetivo deste estudo foi obter o maior número de informações possível sobre os hábitos de P. distincta, no Parque Estadual de Carlos Botelho (24°12 S; 47°SS W; 60 m acima do nível do mar), Sete Barras, SP, sudeste do Brasil. Realizei as observações numa lagoa com cerca de 20 m x 7 m. Ao redor da lagoa, há um gramado com algumas árvores e pequenos arbustos na beira da água. Há pouca vegetação aquática, concentrada nas margens. A vegetação circundante é de Mata Atlântica típica. O clima é úmido-mesotérmico. Fiz observações preliminares em 1990 e viagens mensais de 3 dias, no período reprodutivo de 1991. O comportamento reprodutivo de P. distincta segue o padrão de outras espécies do gênero. A população estudada se reproduz de setembro a fevereiro. Os machos exibem procura ativa por fêmeas e defendem territÓrios reprodutivos móveis por meio de vocalizações, confrontos fisicos e sinalizações com as pernas. Aparentemente, as fêmeas não selecionam seus parceiros sexuais e sua chegada ao sítio de reprodução é assincrônica. Após o início da desova, que ocorre distante do sítio de canto do macho, em uma folha pendente sobre a água, outro(s) macho(s) pode(m) colocar sua(s) cloaca(s) próximo à da fêmea, na tentativa de fecundar os ovos. Suponho que o comportamento reprodutivo de P. distincta evoluiu em conseqüência de seu modo particular de locomoção (caminha ao invés de saltar) associado ao aspecto estrutural dos sítios de corte, que dificultaria a seleção do macho pela fêmea. Essas características fariam com que uma estratégia em que o macho vocaliza e espera a chegada da fêmea, que geralmente ocorre em espécies com estação reprodutiva longa, fosse evolutivamente instável e superada por uma estratégia em que o macho vai ao encontro da fêmea. A eliminação de excretas nitrogenados na forma de ácido úrico só é conhecida em Phyllomedusa e Ghiromantis. Essa característica proporciona economia de água e está ligada à impermeabilização cutânea, que ocorre em Phyllomedusa pelo espalhamento de secreções lipídicas sobre a pele, ao amanhecer ("wiping behavior"), seguido pela adoção de "torpor". Nesse estado, o anfíbio permanece praticamente imovel, com os membros adpressos ao corpo, empoleirado na vegetação. P. distincta apresenta um comportamento típico associado com a passagem do estado de "torpor" para o ativo, ao anoitecer. Esse comportamento possui 3 fases: (1) Abertura Gradual dos Olhos -fase relacionada ao decréscimo da luminosidade; (2) Limpeza do Corpo -esfregação do corpo com os membros e retirada de material acumulado sobre a pele e (3) Abertura da Boca e Contrações do Corpo -provavelmente se relaciona com a retirada de material do abdômen e secreção de muco sobre a pele. A análise de fragmentos da pele ao microscopio optico mostrou que, pouco antes do comportamento, as junções celulares entre o estrato corneo e o de reposição são desfeitas, havendo acúmulo de muco entre eles. Logo apos, o estrato corneo está ausente e cerca de 60% das glândulas mucosas mostram-se vazias, enquanto as granulosas e lipídicas apresentam-se repletas de secreção. P. distincta possui coloração esverdeada que funciona como camuflagem. A coloração das partes ocultas dos membros e dos flancos é contrastante, e pode advertir aos predadores sobre a existência de substâncias t6xicas na pele. As desovas são depositadas fora da água, sobre a vegetação, livrando os ovos e embriões dos predadores aquáticos. Apesar desses mecanismos, observei vários predadores vertebrados dessa espécie. A serpente Liophis miliaris preda as desovas. Os girinos são predados pelo martim-pescador Chloroceryle americana e pelo bem-te-vi Pitangus sulphuratus, que capturam os girinos quando estes sobem à superfície, provavelmente em busca de ar; o cágado Hydromedusa tectifera predou girinos oferecidos em laborat6rio e é uma espécie comum na lagoa; outros predadores prováveis são a traíra Hoplias malabaricus e as cobras d água L. miliaris e Helicops carinicaudus. Os adultos são predados durante o dia, pela serpente chironius exoletus. Durante o dia, os girinos passam a maior parte do tempo no fundo da lagoa e fazem breves incursões à superfície. À noite, eles permanecem praticamente imoveis junto ao filme d água. Provavelmente, essa alternância de comportamento dos girinos evoluiu , em resposta ao comportamento dos predadores: durante o dia, os predadores ativos atacam de fora da água e são visualmente orientados; à noite, outros predadores caçam no fundo da lagoa, utilizando outros sentidos para localizar os girinos

ASSUNTO(S)

anfibio - reprodução animal anuro - reprodução animal - mata atlantica

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