História e política no Memorial de Aires, de Machado de Assis

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Comumente lembrado como o último romance, o canto do cisne do bruxo do Cosme Velho, o Memorial de Aires, de Machado de Assis, contou, na sua história de leituras, com um acentuado tom biografizante. Entretanto, com o passar do tempo, outros vieses foram ganhando lugar na crítica, apontando para uma obra que, longe de ser simples ocaso, levantava ainda questões importantes, como o papel do leitor, os interstícios da autoria e da narração, e as aproximações possíveis entre literatura e história. Assim, a leitura a que se propõe este estudo do Memorial de Aires filia-se à corrente crítica representada por Roberto Schwarz e John Gledson, isto é, tem como objetivo refletir sobre a obra do escritor em relação às questões de seu tempo e seu país. Mais precisamente, visa a ler os escritos do conselheiro Aires com a mesma desconfiança que teríamos com os de Brás Cubas e Bentinho. É dessa maneira que o diário íntimo do diplomata aposentado, interessado aparentemente nos fatos mais comezinhos da vida doméstica, mostra-se não de todo desarticulado da esfera pública. De fato, o fim da instituição da escravidão é um dos assuntos do romance, que se passa entre 1888 e 1889. E se o velho diarista não dá a devida atenção ao fato, comentando mesmo que há muitos outros assuntos mais interessantes no mundo, é preciso saber ler suas observações enquanto representante da ideologia comum à classe da qual fazia parte, a senhorial. Aires, assim, acaba por reproduzir no seu discurso um modo de ser que talvez não seja mais que uma variante da teoria da ponta do nariz, de Brás Cubas. Comedido, cético, bom ouvinte, ele, ainda assim, ajuda a escrever uma história em que os escravos não desejam se afastar da sinhazinha Fidélia por se sentirem cativos de seu afeto. Enquanto, possivelmente, apenas temiam ser abandonados à míngua ou à própria sorte

ASSUNTO(S)

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