Há lugar para a avaliação colangioscópica na estenose biliar anastomótica pós-transplante hepático de doador cadáver?

AUTOR(ES)
FONTE

Arq. Gastroenterol.

DATA DE PUBLICAÇÃO

2020-12

RESUMO

RESUMO CONTEXTO: As complicações biliares continuam sendo uma das principais causas de morbidade e perda do enxerto após o transplante hepático. O tratamento endoscópico das complicações biliares provou ser eficaz ao longo do tempo, deixando o tratamento cirúrgico restrito a casos de exceção. No entanto, ainda não podemos prever quais pacientes terão maior potencial de se beneficiar da terapia endoscópica. OBJETIVO: Nesta premissa, decidimos realizar este estudo para avaliar o papel e a segurança da colangioscopia peroral de operador único (CPO) no tratamento endoscópico das estenoses anastomóticas biliares (EA) pós-transplante hepático. MÉTODOS: Entre março de 2016 e junho de 2017, 20 pacientes consecutivos encaminhados para tratamento endoscópico da EA biliar foram incluídos neste estudo prospectivo de coorte observacional. Os critérios de inclusão foram idade superior a 18 anos e um transplante hepático de doador falecido realizado há pelo menos 30 dias. Pacientes com estenose biliar não anastomótica, fístula biliar, “cast” síndrome, qualquer terapia endoscópica prévia, gravidez e incapacidade de fornecer consentimento informado foram excluídos. Todos os pacientes foram submetidos à CPO antes da terapia endoscópica com prótese metálica autoexpansível totalmente coberta (PMAEC) e após a sua remoção. RESULTADOS: Na CPO realizada antes do tratamento endoscópico, o orifício de estenose e alterações fibróticas foram visualizadas em todos os pacientes, alterações vasculares e a presença de suturas cirúrgicas em 60%, enquanto alterações inflamatórias agudas em 30%. A CPO foi determinante para a transposição do fio-guia através da estenose em cinco casos. Uma PMAEC foi implantada com sucesso em todos os pacientes. A taxa de resolução da estenose foi de 44,4% (tempo médio de permanência de 372 dias). A recorrência da EA foi de 12,5% (acompanhamento médio de 543 dias). Os eventos adversos foram migração distal (66,6%) e proximal (5,5%) da prótese metálica, oclusão da PMAEC (16,6%), dor abdominal intensa (10%) e pancreatite aguda leve (10%). A CPO foi repetida após a remoção da PMAEC. A colangioscopia realizada após o tratamento endoscópico mostrou alterações fibróticas em todos, exceto em um paciente; alterações vasculares e inflamatórias agudas foram menos frequentes em comparação à CPO inicial. O desaparecimento do material de sutura, observado em todos os casos, foi notável. Nenhum dos achados colangioscópicos foram estatisticamente correlacionados ao resultado do tratamento ou à recorrência de estenose. CONCLUSÃO: A colangioscopia peroral é viável nos pacientes pós-transplante hepático com estenose biliar anastomótica. Os achados colangioscópicos podem ser classificados em alterações inflamatórias agudas, fibróticas e vasculares. A colangioscopia pode ser útil para auxiliar na passagem do fio-guia, mas seu papel geral na mudança de tratamento nos pacientes pós-transplante hepático não foi demonstrado.

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